Trabalho autônomo quebra tabu e vence emprego de carteira assinada

Ano em que a reforma trabalhista foi aprovada, 2017 foi também o período em que pela primeira vez o trabalho informal superou a oferta de empregos declaradamente formais no Brasil. Em todo o país, 34,3 milhões de pessoas trabalharam no ano passado por conta própria, enquanto 33,3 milhões tiveram empregos formais. Em 2016, eram 34 milhões de empregos formais, contra 32 milhões de autônomos, de acordo com o IBGE.

Dados divulgados nacionalmente ontem, pelo instituto, e, na Bahia, pela SEI, órgão do governo do estado, mostram que aumentou o número de autônomos no mercado de trabalho e que, diferente de outros segmentos, eles perderam no ano passado 5% de sua renda.

A Bahia perdeu 18 mil postos de trabalho formais, enquanto houve um aumento de 44 mil trabalhadores autônomos no estado.

“É cedo para atribuir esses resultados à reforma trabalhista, cujos efeitos serão sentidos posteriormente, Mas os dados apontam o crescimento do trabalho informal”, avalia a coordenadora da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), Ana Margaret Simões, da SEI.

“O que a gente nota é que em períodos de crise, como o que nós tivemos entre 2015 e 2016, há uma tendência de redução de empregos estruturados, com carteira assinada, o que a gente não via desde 2000”, diz. Segundo dados do Dieese, o número de empregos com carteira vinha crescendo até 2014.

“A Região Metropolitana de Salvador tem uma renda média baixa e quando acontecem demissões as pessoas buscam uma alternativa de renda, geralmente como autônomas”, explica.

O questionário aplicado não define o conceito de autônomo e não faz distinção entre o tipo de vínculo.

Os entrevistados podem ter sido contratados diretos, terceirizados ou microempreendedor individual, conhecido pela sigla MEI, um tipo híbrido surgido junto com a reforma trabalhista.

Vantagem

Rafael Meira, 22 anos, ganha a vida desde 2015 vendendo pares de meias e bonés na rua. “Eu consigo fazer mais de um salário e não tenho que pagar aluguel nem impostos”, diz. com certo orgulho, antes de reconhecer sua vontade de montar um negócio. “Meu pai tinha uma loja de roupas e eu ajudava desde pequeno. Quando o negócio fechou, ele passou a fazer fretes e eu decidi vender na rua”, diz Meira, lembrando como começou sua trajetória na informalidade.

Sobre a contribuição ao INSS, ele afirma que parou de pagar “há uns meses”, mas diz pretender retornar ao sistema em breve.

Rafael se declara cético quanto à possibilidade de se aposentar. “Esse governo quer que a gente trabalhe até morrer. Tô fora!”, reclama o ambulante. “Uma vantagem é que eu trabalho quando quero, mas também não dá para ficar sem vir porque senão complica para pagar as contas”, diz.

 

Fonte: A Tarde

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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