Senador Walter Pinheiro aponta as estratégias para vitória de Rui Costa

Senador eleito em 2010 com mais de 2,1 milhões de votos de frente, o petista histórico Walter Pinheiro, preterido do processo de indicação para a candidatura ao Palácio de Ondina, nega a existência de mágoas e aponta as estratégias para que o candidato ao governo Rui Costa (PT) e ao Senado, Otto Alencar (PSD), ganhem as eleições na Bahia.

Ele diz de forma enfática que não coordena a campanha de Rui, mas exalta a própria participação nos bastidores.

Segundo ele, o maior desafio do petista é passar a confiança de que pode fazer muito mais que o governador Jaques Wagner.

Tribuna da Bahia – Como o senhor está avaliando este início de campanha aqui na Bahia?
Walter Pinheiro –  Tem sido uma campanha como tem ocorrido em todo o Brasil, muito marcada pelas dificuldades, eu diria até estruturais, mas, ao mesmo tempo, uma campanha com um corte diferente, tanto em nível estadual, quanto em nível federal. Uma campanha que é muito mais pautada pelo que foi feito nos últimos anos, o que se avançou. Obviamente, o que está em debate hoje é qual a condição efetiva tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de vista dos programas sociais, o que é possível se fazer e qual a expectativa, por exemplo, da população em relação ao resultado. Então temos uma campanha que traz consigo uma responsabilidade maior por estarmos no governo federal há 12 anos e no estado há oito anos, com um grau eu diria até de plataformas de avanços, extremamente consolidadas, portanto é natural que enfrentemos agora mais cobranças por estarmos no andar de cima, de quem conseguiu superar diversos problemas estruturais e até de atendimento à maioria da população. Diante disso, as dificuldades são naturais, compatíveis com a nossa capacidade de dialogar. Agora também temos uma campanha marcada muito por um nível rebaixado, ou seja, do ponto de vista das estruturas partidárias e do ponto de vista do vício introduzido no processo eleitoral.

Tribuna – O senhor está coordenando a parte política da campanha de Rui Costa, após ser preterido. Isso gera algum tipo de desconforto?
Pinheiro – Primeiro que eu não sou o coordenador da campanha de Rui. O coordenador da campanha de Rui é Carlos Martins e o subcoordenador é Roberto Muniz. Eu sou mais um dos elementos políticos que fazem parte do contexto de diálogo com as forças que estão dentro da chapa na campanha. Então, minha tarefa eu já vinha, inclusive, fazendo. Eu participei ativamente da elaboração doprograma de governo, nas corridas pelo interior e também com a participação de várias pessoas ligadas a mim, da época da Telebahia, gente que historicamente militou comigo na estrutura de planejamento, gente que me acompanha na estrutura de planejamento federal e na questão do orçamento federal. Essas pessoas, inclusive, fizeram parte da primeira fase da campanha, logo depois do diretório que decidiu que Rui era o candidato, portanto, não há nenhum tipo de conflito. Eu não assumo nenhum tipo de comando, até porque a campanha fez uma estruturação na política que eu acho ser correta. A minha parte é de militância, só que a diferença é que eu sou um militante com mandato no Senado. Eu não tinha até o dia 15 de julho disponibilidade na semana, até porque eu tenho tarefas ainda no Senado, na própria questão inclusive da relação do estado com a União, na busca de recursos, na questão da disputa dos projetos. Eu não tinha disponibilidade semanal, por exemplo, para a campanha, o que passei a ter agora com o chamado recesso branco em Brasília. Eu vou voltar a Brasília na semana que vem, inclusive para aprovar dois financiamentos para o estado da Bahia, mas estou agora à disposição. Tenho viajado, tenho participado de todas as atividades, carreatas, comícios, portanto, a tarefa que faço hoje é muito de diálogo interno com os deputados.  Meu papel hoje é de fazer muito mais a ligação interna, na política, do que efetivamente na estrutura, na agenda, questões que são mais tocadas por uma coordenação. Não é que eu não faça parte, mas eu não sou coordenador dessas tarefas.

Tribuna – Qual o maior desafio que a própria candidatura de Rui Costa terá até a próxima eleição?
Pinheiro – Eu diria que Rui e a chapa como um todo têm algumas coisas muito interessantes. O próprio plano de desenvolvimento econômico da Bahia, com a desconcentração da Região Metropolitana de Salvador, a expansão em todo o estado, o crescimento da matriz de produção. Eu diria que Rui faz uma campanha com esse patamar, portanto é mais fácil. Você agora tem um chão, tem projeto, uma base consolidada deixada por Jaques Wagner, mas, em compensação, isso é um desafio muito grande que é o de chegar e apresentar para a sociedade a condição de que você pode fazer muito mais. Esse é o maior desafio de Rui. É criar uma sinergia com a sociedade, da possibilidade do diálogo para poder dizer: – Olha, eu não posso fazer mais. E não é só uma relação de parceria com o governo federal, mas é ter a capacidade de fazer o que Wagner fez nesses últimos oito anos, que é montar uma estrutura capaz de elaborar, planejar, executar. Então, o maior desafio de Rui é de passar essa confiança, essa certeza de que pode chegar nesse andar de cima e continuar o bom projeto agora com melhorias acentuadas e avanços consideráveis.

Tribuna – Como fazer para reverter o desconhecimento de Rui? Qual a estratégia para fazer esse fortalecimento?
Pinheiro – A campanha como um todo e até o próprio candidato que para mim é o principal coordenador da campanha, pois é aquele que dá o tom, vem discutindo muito isso. Quando nós fizemos as mais de 25 rodadas pelo estado, foi a forma de escutar a sociedade e apresentar aquele que é o próximo timoneiro. Foi dizer: -Olha, se você não o conhecia, ele está aqui. Se você tinha alguma dúvida, tem a oportunidade de questionar. Portanto, mais do que conhecer a figura de Rui, a proposta era abrirmos o caminho para que as pessoas conhecessem as potencialidades de Rui e as suas capacidades de executar o que apresentamos como programa de governo. A outra fase agora é isso que estamos fazendo, que é você, na campanha, intensificar, não só com um mero comício, ou uma mera caminhada, mas prover esses lugares e essas pessoas com informações, usando o diálogo, o contato direto, usando as ferramentas do novo tempo, que são as redes sociais. O próprio processo da campanha na TV ajuda, e é importante nós transformarmos isso em um canal daquilo que a gente pode, deve e com quem a gente vai fazer e não transformar aquilo em um ringue de disputa do outro lado. Esse negócio de ficar comparando muito com o passado e com alguém não é muito meu perfil. A estratégia que estamos adotando é falar bem de Rui, falarmos bem de quem está com Rui e o que podemos fazer. Isso é melhor do que falarmos mal do outro.

Tribuna – Como vê as últimas pesquisas que colocam Paulo Souto na dianteira e apontam um certo favoritismo momentâneo da oposição?
Pinheiro – A pesquisa eu diria que é um método científico correto, agora, como é que todo mundo mobiliza ainda essa chamada pesquisa e como cada um pega a sua pipeta e mexe lá no laboratório pode dar uma mistura mais ácida ou menos ácida. Por exemplo, o mesmo instituto de pesquisa que dá esse resultado dizia que eu não ia ser o senador da Bahia, que eu ia tomar uma cacetada que não tinha mais tamanho. O primeiro colocado nas pesquisas tinha mais de 40% e eu estava fora.  No dia 24 de setembro, acho que a dez dias da eleição passada, o instituto começou a corrigir, dizendo que eu comecei a subir e mesmo assim não tirava o cara da frente, ou seja, ele já estava com a cadeira renovada no Senado. Quando foi na boca de urna, no domingo da eleição, já faltando 15 minutos para o encerramento da votação, foi que soltaram a verdadeira pesquisa de boca de urna e eu tive mais de 2,1 milhões de votos de frente e o cara que estava na frente com 42% nas pesquisas teve 13% e a votação dele foi melhor em quinhentos e alguma coisa. A minha frente foi 2,1 milhões. Óbvio que naquela época o instituto estava fazendo corretamente a pesquisa? Não sei, digo eu. A minha tese é a mesma adotada em 2006, quando trabalhei na campanha de Wagner e fui o deputado federal mais bem votado. É a mesma adotada em 2010. Então vamos trabalhar. Quem vai revelar efetivamente o resultado das urnas é a nossa capacidade de trabalho.

Olha, vamos ganhar no primeiro turno. A melhor coisa que tem é você traçar caminhos e metas. Metas não se faz com essa história de ficar marcando o final. Meta você faz quando você aponta uma reta de chegada e diz: – Eu quero chegar lá. E aí você faz todo dia, nas ações diárias. Portanto, pesquisa pode servir para gente se orientar, pra dar uma olhada, vê essa história de desconhecimento, mas a melhor pesquisa é colocar sebo nas canelas, argumento na ponta da língua, muito diálogo e inclusive andar muito para ter a oportunidade e capacidade de falar com as pessoas e convencê-las.

Tribuna – A candidatura da senadora Lídice da Mata (PSB) ao governo atrapalha ou ajuda o PT?
Pinheiro – Isso é outra coisa que as pessoas ficam discutindo de que Lídice interfere ou não interfere, que seria braço auxiliar ou que vai prejudicar a gente. Acho que, primeiro, Lídice não se prestaria ao papel de ser braço auxiliar de ninguém. Não está na vida dela, na cabeça, na política. Ela também não se prestaria ao papel de agir com rancor para poder dificultar a possibilidade de continuarmos com o projeto na Bahia com Wagner e agora com Rui. Lídice fez uma opção a partir daquilo que aconteceu com o partido dela nacionalmente. Ou ela abandonava o partido dela ou ela fazia exatamente esse papel de fazer chegar aos quatros cantos da Bahia a proposta do partido dela em nível nacional. Acho que a candidatura dela cumpre um papel a partir exatamente da relação nacional. Eu não vejo nenhuma anomalia nisso. Eu não sou partidário daqueles que dizem: – Ah, Lídice vai desidratar ou Lídice vai caminhar para um processo de prejudicar A ou B. Eu acho que ela cumpre um papel importante, cumprindo uma terceira força na Bahia, como uma alternativa e que pode, inclusive, contribuir muito para que o debate saia da polarização e ao mesmo tempo a gente ganhe no debate da política, muito mais com a apresentação propostas do que o acirramento disso ou anti- aquilo. Na Bahia houve isso durante muito tempo: a política a favor de Antonio Carlos e a contra Antonio Carlos. Era a política do sim e a do não. Agora temos que ter a política do que podemos fazer, em que condição podemos fazer. Acho que nesse cenário a candidatura de Lídice contribui muito para isso.     

Tribuna – E os atuais ataques que Lídice tem feito ao governo do PT incomodam?
Pinheiro – Eu acho que a dosagem que cada um usa dos seus adjetivos ou dos argumentos, cada um faz por si. Primeiro que eu parto do princípio que a gente não deve ficar fiscalizando os adjetivos dos outros, nem tampouco ficar passando recibo. Cada um responde por si. Rui tem que cuidar muito é de responder com propostas, que é o que a população espera.

Tribuna – A disputa para o Senado se apresenta como acirrada, inclusive por ser decidida em um turno só. O senhor acha que existe um favorito?
Pinheiro – Olha, eu diria que historicamente, na Bahia, o senador tem muita vinculação com o governador eleito, com a chapa majoritária. Isso é um traço muito característico do estado, algo muito consolidado há muito anos. Como a disputa é de um senador só, você tem a possibilidade talvez disso modificar um pouco. Na campanha de 2010, por exemplo, eu e Lídice fizemos várias agendas fora da chapa majoritária porque dissemos o seguinte: – Nós vamos duplicar a nossa capacidade de atuar no estado, enquanto Wagner estava em um lado, nós estávamos no outro. Quando ele estava no Sul e eu no Norte, nós fazíamos um a campanha para o outro. Essa é uma estratégia que eu estou discutindo muito com Otto. Ele tem essa possibilidade pelo fato de ser um cara que conquistou uma capilaridade muito grande no interior do estado, isso dá a ele uma vantagem expressiva de correr trecho. Portanto é uma eleição que não podemos determinar favorito, mas acho que Otto tem uma estrada que pode tranquilamente colar a sua campanha com a campanha de Rui ou com a chapa majoritária, fazer a vinculação da importância da chegada dele no Senado com a campanha em nível nacional.

Tribuna – Em relação à disputa nacional, a presidente Dilma Rousseff (PT) vai continuar na dianteira, ajudando o candidato a governador Rui Costa (PT)?
Pinheiro – A candidatura em nível nacional é sempre uma boa alavanca porque você faz – lamentavelmente, essa é uma das formas como as informações circulam, onde você tem em alguns lugares a dependência do programa nacional, em detrimento do programa local. Eu acho que essa é uma mistura que as vezes não é boa, que termina a gente não olhando. Eu sou muito mais partidário do que você se localizar e depois você linkar com a questão nacional. Se esse é o melhor caminho aí, acho que temos que trazer exatamente essas coisas do plano federal. Por exemplo, nós conseguimos com o governo federal resgatar essa estrutura do metrô de Salvador, que estava parado há 14 anos, conseguimos uma política de atuação de investimento que possibilitou ampliar o parque de energia eólica, no interior, conseguimos o programa habitacional Minha Casa Minha Vida, a Bahia foi um dos estados que mais conseguiu habitações pelo programa. É importante que nós peguemos essa campanha nacional e passe exatamente para o povo baiano as condições de fazermos os projetos e não aquilo da história da internet, de que eu sou o único cara que falo com Dilma. Aí o povo nem gosta muito porque passa aquilo de um canal de subserviência. Mas, é diferente você chegar e dizer: – É importante o projeto nacional para a gente consolidar diversas políticas no estado. A Bahia não tem capacidade de investimento para suportar tudo isso que eu falei, investimentos como a ferrovia, da ordem de mais de R$30 bilhões, e R$30 bilhões é o orçamento.

Colaboraram: Fernanda Chagas e Lilian Machado.

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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