Plano de Negócios da Petrobras agrada mercado, mas petroleiros reagem

O plano “realista” de investimentos da Petrobras teve boa aceitação no mercado financeiro, mas gerou fortes críticas dos representantes de empregados da companhia.

Enquanto bancos de investimento reviam para cima suas recomendações para ações da empresa, as duas principais entidades sindicais do setor de petróleo divulgavam notas criticando a ampliação da política de vendas de ativos. O representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras, Deyvid Bacelar, chegou a lembrar a greve de 1995, a maior da categoria, ao pedir mobilização para evitar “mais um retrocesso” contra a maior estatal brasileira.

Um dia após o anúncio do Plano de Negócios e Gestão 2015-2019, que prevê um orçamento 37% inferior ao plano anterior, grandes bancos de investimento, como Credit Suisse, HSBC e JP Morgan divulgaram relatórios revendo para cima suas recomendações para as ações da companhia. Os papéis da Petrobras iniciaram o dia em alta na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), mas fecharam o pregão em ligeira queda — 0,14% as preferenciais e 0,31% as ordinárias — com impacto de nova queda no preço internacional do petróleo.

Ainda assim, o HSBC mudou sua recomendação para as ações da Petrobras de “venda” para “manter”, elevando o preço-alvo de US$ 4,90 para US$ 9,15. O JP Morgan seguiu linha semelhante, mudando a recomendação de neutra para comprar e elevando o preço-alvo de US$ 7 para US$ 10,50. Os analistas, em geral, elogiaram as novas metas de produção e redução do endividamento, que, embora menores do que em planos anteriores, foram consideradas mais realistas e pró-mercado.

Referindo-se ao discurso feito no dia anterior pelo presidente da estatal, Aldemir Bendine, o jornal britânico “Financial Times” resumiu a sensação ao dizer que “as palavras de Bendine alimentam esperanças para a Petrobras”. A percepção geral, porém, é que há desafios para o processo de recuperação da companhia, que convive com uma dívida superior a R$ 400 bilhões, principalmente relacionados à autonomia para praticar preços de combustíveis alinhados ao mercado internacional.

Do lado dos trabalhadores, porém, as críticas foram fortes, principalmente com relação ao programa de desinvestimentos, que prevê a venda de US$ 15,1 bilhões em ativos no período entre 2015 e 2016 e a reestruturação, desmobilização e venda de ativos no valor de US$ 42,6 bilhões entre 2017 e 2018. “Para os trabalhadores, talvez seja o momento mais crítico observado desde a greve de 1995. É uma terrível coincidência que, 20 anos após aquele momento, a categoria se depare, com uma nova tentativa de destruição da Petrobrás”, escreveu o sindicalista Deyvid Bacelar, ligado à CUT e representante dos trabalhadores no Conselho de Administração.

“Assim como a empresa remontou a 20 anos atrás, é o momento de a categoria petroleira ter a unidade e a força para evitar mais um retrocesso contra a maior empresa deste país”, concluiu ele. Em 1995, os petroleiros cruzaram os braços por 32 dias em protesto contra a possibilidade de privatização da companhia durante o governo Fernando Henrique Cardoso, que havia iniciado a venda de outras empresas estatais. Diante do risco de desabastecimento, o governo convocou o exército para desocupar as refinarias.

“Não é razoável que por uma questão conjuntural a Petrobrás venda ativos, se desintegre e se fragilize perante os riscos inerentes ao setor. (…) O fluxo de caixa pode ser assegurado por política de preços adequada e alguns investimentos podem ser postergados para lidar com questões financeiras conjunturais”, reforçou o presidente da Associação dos Engenheiros de Petróleo (Aepet), Felipe Coutinho.

Bacelar disse que a direção da estatal concordou, durante a reunião, com a possibilidade de revisão do marco regulatório do pré-sal, que põe fim à exclusividade da Petrobras na operação dos campos. Em entrevista para detalhar o plano, porém, o presidente da estatal evitou a polêmica, respondendo apenas que a empresa opera de acordo com as leis estabelecidas.

Fonte: Brasil Econômico

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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