Negócios conscientes conquistam jovens empreendedores

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Klaus Lima, de 18 anos, preparava-se para ir ao trabalho, em uma manhã de segunda-feira, em março do ano passado, quando Kiko Kislansky bateu na porta da casa onde ele morava, em Pernambués. A pergunta que ouviu na sequência causou estranheza, mas o olhar sincero do jovem que repetia a frase chamou a atenção: “Se eu te desse um abraço, você usaria?”.

Kiko, 24 anos, é sócio-fundador e idealizador da marca de roupas Euzaria. Ele tinha vendido as 50 primeiras camisetas, em uma feira em Salvador, e, como contrapartida, iria distribuir pessoalmente a mesma quantidade.

Fundada há pouco mais de um ano, a Euzaria é uma das empresas baianas que integram a rede de capitalismo consciente. O conceito abarca uma nova filosofia de negócios, que reúne marcas com propósito de agregar valores de bem-estar à sociedade.

“A diferença entre focar no dinheiro e focar no propósito é a mesma de se dividir em ser  melhor e ter mais. É uma mudança de consciência muito forte”, opina Thomas Eckschmidt, diretor do Instituto Capitalismo Consciente Brasil.

Inspiradas no amor que nutriam por cactos, as administradoras Monique Lopes, 25, e Juliana Lima, 28, decidiram abrir a Cak.Cactus, que vende plantas em pequenos vasos de barro pintados à mão. Mas a ideia não para em quem leva para casa a cactácea. A cada produto vendido, uma muda é doada para uma criança.

“Queríamos, além de fazer com que os adultos tivessem um cuidado maior com o meio ambiente, incentivar as crianças a fazerem a diferença, com uma visão mais colaborativa”, conta Monique.

A cultura do excesso preocupava a estudante Paula Morais. Ela aproveitou a competição Startup Weekend Inatel, evento global de empreendedorismo, para criar um site que resolvesse a angústia que sentia por eventualmente precisar comprar objetos que usaria poucas vezes e que depois ficariam ociosos em casa.

Paula, 21, desenvolveu o Talugo, que permite cadastrar qualquer item para aluguel, de vestidos a câmeras GoPro (o nicho principal é eletrônicos). A iniciativa angariou o prêmio da competição. Hoje, a rede conecta mais de quatro mil produtos e 3.500 usuários.

“A ideia é trocar a cultura do ter por compartilhamento, possuir uma coisa apenas  pontualmente, somente quando você precisar”, explica Iago Vieira, presidente da Talugo.

Novo consumidor

Nos últimos anos, o perfil do consumidor brasileiro mudou e passou a ser mais exigente em relação à responsabilidade social das empresas. Segundo levantamento feito pelo Instituto Akatu, 46% dos clientes levam em conta a relação das marcas com a comunidade na hora de escolher uma opção.

Para Eduardo Biz, editor da empresa Box1824, que faz análises de tendências de mercado, desde 2010 o boom da economia compartilhada passou a fazer parte do cotidiano das pessoas no Brasil.

“Os novos tipos de economia que estão surgindo renovam os modelos capitalistas que estávamos acostumados. As iniciativas empreendedoras não dependem mais de investidores financeiros por trás delas. O lucro passa a ser reavaliado por outros ângulos. Uma empresa de sucesso anos atrás era uma empresa rica. Hoje, existem outras satisfações, como realização de propósito e desenvolvimento criativo”, afirma Eduardo.

Quatro pilares do capitalismo consciente

Liderança consciente – Líderes que focam em “nós”, em vez de “eu”. Entendem que devem apoiar as pessoas e nutrir os valores

Propósito maior – Ganhar dinheiro é fundamental para qualquer negócio, mas não é a única razão pela qual ele existe. Empresas conscientes se concentram em propósitos além do lucro

Orientação para stakeholders – Entender o ecossistema que envolve a empresa e liga os stakeholders (partes interessadas). Não se restringe aos acionistas

Cultura Consciente – Incorporação de valores, princípios e práticas conscientes do negócio

Fonte: Agência Brasil

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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