Médicos em Salvador fazem primeira cirurgia de um feto no útero da mãe

A Climério de Oliveira da Universidade Federal da Bahia, primeira maternidade do Brasil, acaba de realizar a primeira cirurgia fetal para correção de mielomeningocele no Norte-Nordeste.

Conhecida como Cirurgia Fetal a Céu aberto, a intervenção consiste na operação do feto ainda dentro do útero da mãe.

Após realizar uma ultrassonografia no 5º mês de gravidez, uma gestante de 26 anos descobriu que seu bebê era portador de mielomeningocele. Diante do diagnóstico, o corpo clínico da maternidade decidiu realizar a cirurgia inédita na própria instituição.

A mielomeningocele é uma má-formação congênita da coluna vertebral que dificulta a função primordial de proteção da medula espinhal, que é o tronco de ligação entre o cérebro e os nervos periféricos do corpo humano.

Quando a medula espinhal nasce exposta, muitos nervos podem ser traumatizados ou não terem função, sendo que órgãos como bexiga, intestinos e músculos também podem estar afetados.

A hidrocefalia (acúmulo de água no cérebro, que causa distúrbios mentais e motores), também é uma das principais sequelas da doença.

“Como se tratava de um procedimento inédito no Norte-Nordeste, exigiu muita coragem da direção da maternidade e de todos os profissionais envolvidos. A principal preocupação era garantir que mãe e bebê não corressem riscos, por isso foram 30 dias de intenso trabalho e reuniões técnicas. Chegamos a simular a cirurgia e buscamos garantir todos os recursos necessários, como materiais e medicamentos de alto custo”, afirmou o obstetra, Paulo Gomes Filho, que executou o procedimento coordenando uma equipe formada por outros 18 profissionais.

O especialista destacou ainda que foram feitas adequações do ambiente cirúrgico da maternidade e providenciados todos os itens em caso de uma intercorrência cirúrgica, como bolsas de sangue, ambulância e reserva de vaga em UTI materna e neonatal.

A Cirurgia Fetal a Céu Aberto para reparo de mielomeningocele foi realizada na última quinta-feira (28) e durou cerca de três horas. Os médicos expuseram o útero da mãe, operaram o feto com as costas parcialmente expostas, depois colocaram o bebê novamente dentro da cavidade uterina.

“São dois tempos cirúrgicos. O primeiro, do obstetra, que faz a exposição do útero, seguida de uma incisão para expor a lesão nas costas do bebê. Depois, entra o neurocirurgião que faz a correção do defeito fetal. Fazendo a cirurgia fetal, você permite melhorar o desenvolvimento motor do bebê, aumentando as chances daquela criança caminhar, diminuindo a necessidade de cirurgias após o nascimento e, sobretudo, melhorando a qualidade de vida do pequeno paciente”, explica José Roberto Tude, neurocirurgião que executou a correção da mielomeningocele.

A paciente deve ficar pelo menos mais 5 dias na maternidade para observação, e só então receberá alta para aguardar em casa o nascimento do filho.

Esta foi a primeira mãe beneficiada pelo procedimento em toda Bahia, nos 104 anos de funcionamento da Maternidade Climério de Oliveira, apesar de outros casos já terem sido diagnosticados.

A Bahia é o 4º Estado em incidência de mielomenigocele, mas muitos não são tratados por falta da oferta do serviço. No Brasil, mais de 100 cirurgias fetais já foram feitas entre os anos de 2003 e 2014, uma média de dez por ano.

A técnica revolucionária veio dos Estados Unidos e, até então, só era realizada no Estado de São Paulo, tendo como grande incentivador e mestre o Professor Antônio Moron da UNIFESP.Estudos revelam que um a cada mil nascidos vivos tem a doença, sendo registrados 3 mil casos por ano no Brasil.

Deste total, de  15% a 30% morrem nos primeiros 5 anos de vida. A doença pode ser evitável se a mulher fizer uso do ácido fólico de dois a três meses antes da gestação e nos primeiros três meses da gravidez. O suplemento, que é distribuído em postos da rede pública de saúde, previne 70% da incidência da doença.

A realização do procedimento na Maternidade Climério de Oliveira foi vista com entusiasmo por Ana Paula Monteiro, mãe da pequena Iolanda Vitória, de 4 anos, portadora de mielomeningocele, hidrocefalia, bexiga e intestino neurogênico.

“A noticia foi recebida com extrema felicidade e esperança, pois sabemos que com ela há uma imensa melhora na qualidade de vida e no aspecto cognitivo da criança. Essa é uma vitória muito grande para as famílias da Bahia”, comemorou a administradora e consultora financeira, que após a descoberta da má formação congênita da filha decidiu ajudar outras famílias criando a APAMBA – Associação dos Pais e Amigos dos Portadores de Mielo Bahia, juntamente com Yanna Souza, mãe de Antônio, também portador da doença.

Hoje a APAMBA possui cerca de 20 de mães diretamente ligadas ao grupo no facebook e 120 integrantes formados por pais, familiares e profissionais da área de saúde.

Fonte: Tribuna da Bahia

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

Menu de Topo