Lideranças indígenas reconhecem avanço no atendimento a aldeados após um ano de habilitação do Materno-Infantil de Ilhéus

Único hospital habilitado para o atendimento às mulheres e crianças indígenas na Bahia, o Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, obra do Governo da Bahia gerida pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF-SUS), passa, anualmente, por um monitoramento e avaliação dos serviços prestados. A ação, coordenada pelo Distrito Sanitário Especial Indígena, unidade gestora do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS), reúne lideranças indígenas, representações do controle social e diretoria do hospital para avaliar os serviços realizados durante o ano, debater correções de rumos e avanços que passam pela garantia de um atendimento de saúde culturalmente sensível e de alta qualidade.
De acordo com Danila Guimarães, apoiadora técnica de Atenção à Saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena da Bahia (DSEI-BA), o encontro é fundamental porque permite que lideranças indígenas, DSEI e FESF-SUS identifiquem gargalos e apontem melhorias na comunicação, na logística, na humanização do cuidado e na adaptação dos protocolos clínicos às especificidades culturais — o chamado atendimento diferenciado. Ela destaca ainda que a realização anual dessa avaliação atende a uma exigência do Plano de Atenção Especializada aos Povos Originários, aprovado pelo Ministério da Saúde em 2024, que habilitou o hospital de Ilhéus.
Neste ano, a primeira etapa do encontro foi realizada na quarta-feira (10), na Aldeia Tukum, no sul de Ilhéus, território da etnia Tupinambá, e contou também com a participação de representantes da etnia Pataxó Hã-Hã-Hãe, atendida pelo hospital. Já na quinta-feira (11), a comitiva visitou a unidade hospitalar para avaliar aspectos como a adequação da ambiência e dos serviços às especificidades culturais.
O Brasil tem cerca de 1,7 milhão de indígenas, segundo os dados divulgados pelo IBGE. Com 229.103, a Bahia conta com a segunda maior população indígena no país, o que representa 1,62% dos habitantes do estado. Salvador é a segunda capital mais indígena do Brasil. No ranking das 50 cidades do Brasil com maior comunidade do grupo étnico, a Bahia ainda conta com Porto Seguro, em 14º, e Ilhéus, em 21º.
Mudança de realidade
Liderança indígena Tupinambá, o Cacique Gildo Amaral destacou o papel do HMIJS na melhoria do serviço materno-infantil na região, lembrando que a história mostra um passado marcado por muitos óbitos de crianças indígenas. “Hoje a coisa está fluindo e a parceria com o estado é de grande importância para o povo indígena da Bahia”, afirma.
Iago Santos, coordenador técnico do Polo de Pau Brasil, que também atende as comunidades indígenas de Itaju do Colônia e Camacan, avalia que o Hospital Materno-Infantil representa um marco para os povos originários e que a parceria com a unidade tem se mostrado muito positiva. “Com esta parceria, temos porta aberta, com mais agilidade para atender os pacientes”, elogia.
“É um avanço muito grande e que precisamos fortalecer cada vez mais”, completa Luiz Tithyá, representação do Setor de Controle Social e assessor técnico da Saúde Indígena. “Esta é uma porta que está sendo aberta não só para os Tupinambá, mas também para indígenas de outras regiões da Bahia”, reconhece.
Diretora-geral do HMIJS, Domilene Borges revela que, tão importante quanto ter o reconhecimento indígena, é ter, nestes encontros, o conhecimento sobre o que ainda pode e precisa melhorar. “Estamos muito perto do nascimento do bebê indígena de número 500 e de 6 mil atendimentos indígenas em nossa unidade, o que demonstra a importância desta habilitação e de o hospital seguir sendo referência neste modelo de atendimento em todo o estado”, destaca.
Referência
O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio dispõe de 105 leitos distribuídos entre obstetrícia, gestação de alto risco, pediatria clínica, UTI pediátrica, UTI neonatal e centro de parto normal, integrados à Rede Cegonha e à rede de urgências e emergências. A unidade funciona 24 horas e recebe tanto demanda espontânea quanto referenciada de grande parte da região sul da Bahia. O Estado investiu cerca de R$ 40 milhões em obras e equipamentos, e, em quatro anos de funcionamento, a unidade já ultrapassou 12 mil partos realizados.

