Histórias roubadas, de Décio Torres Cruz, será lançado em Alagoinhas

O livro de contos Histórias roubadas, de Décio Torres Cruz, o mais novo membro da Academia de Letras da Bahia, será lançado em Alagoinhas no dia 1º de setembro, a partir das 19 horas, no Restaurante Engenho Velho, localizado na rua Lauro de Freitas, 36 – Centro.

Publicado pela Editora Penalux (2022), o livro possui 22 contos bastante criativos, reflexivos e divertidos sobre temas diversos, com personagens inusitados e cenários de diferentes cidades do Brasil e do exterior. Conta com a apresentação da orelha do escritor brasiliense/baiano Lima Trindade e texto da quarta capa escrita pela premiada escritora portuguesa Teolinda Gersão.

Mesclando técnicas de diversos gêneros literários, o autor brinca com diferentes modalidades discursivas, passeando pela poesia e teatro, e por estilos literários diversos tão característicos da literatura pós-moderna e suas vertentes pop e cinemática. Tendo como mote o roubo e a escrita de histórias, alguns dos contos se intercalam num interessante jogo intertextual.

Estudioso das estéticas renascentista, moderna e pós-moderna, o autor se utiliza de seu conhecimento de teoria e crítica literárias adquirido em  muitos anos de prática como professor de literaturas de diferentes nacionalidades para criar histórias divertidas que brincam não só com a tradição literária de diversos países, mas também com os finais de alguns contos, envolvendo o leitor e convidando-o a participar do processo criativo, deixando-o eleger sua própria conclusão.

Embora já tenha uma grande produção de livros didáticos e teóricos no Brasil e no exterior e de já ter publicado alguns contos, crônicas e poemas em antologias,  foi somente no ano passado que Décio Torres Cruz elegeu o gênero poesia para sua estreia individual na escrita criativa com o livro Paisagens interiores (Patuá, 2021) que teve lançamentos virtuais e presenciais na Bahia, no Rio de Janeiro e em São Paulo e obteve uma calorosa recepção por parte dos leitores e da crítica. O livro já se encontra em sua terceira tiragem, com a tradução para o italiano por Daniel Fonnesu publicada este ano na Itália pelas Edizioni WE. O autor, que ganhou destaque na mídia com seu livro anterior, sendo entrevistado por jornais, revistas e blogs e por jornalistas e escritores em programas de rádio e TV em diversos estados do Brasil e no exterior (Portugal, França, Holanda, e Egito), agora nos brinda com um livro de contos que possui uma gama bastante variada de temas, estilos e técnicas narrativas.

Alguns dos seus contos apresentam tons poéticos, como “As fronteiras do encantamento” e “A lua sobre as veredas tropicais”; Outros passeiam pela crônica e narrativas de viagem, como “Margô e seus sonhos postergados” e “As tias”. Uns tratam de questões históricas, filosóficas e existenciais, como “Sobre ondas e bancos de areia” e “Estradas possíveis e as trilhas não percorridas”; Outros, como “Aula de português”, “A aluna deslocada e tresloucada” e “Zuleica, minha irmã” exploram o humor e a diversão em meio a discussões de temas contemporâneos e de linguagem; Mistério e aventura são encontrados em “O ladrão de histórias”, que inspirou o título, “O mistério dos jogos mentais” e “Era uma vez uma cidadezinha”. Técnicas cinematográficas são utilizadas na construção de “Um dia na periferia da vida”, que enfoca a violência urbana diária nas nossas metrópoles. A descoberta do ser e do sexo na adolescência é abordado em “A avó do Wesley” e em “O caso do psicólogo”. Um gênero híbrido de peça teatral e conto é criado em “A divina tragédia humana” e nos contos engraçados escritos sob forma de diálogos. Há, ainda, questões políticas numa história que metaforiza a criação de estados totalitários sob a perspectiva de uma criança, histórias de amor possíveis e impossíveis, jogos e apropriações da tradição literária e brincadeiras com a metalinguagem narrativa quando um personagem se insurge contra o seu criador.

Por todas essas histórias, perpassa uma grande ironia que caracteriza a voz narrativa nas discussões sobre gênero, identidade e a existência humana. Encontramos, também, uma contundente crítica aos preconceitos encontrados na moral de hábitos e costumes hipócritas vigentes em nossa sociedade, quando personagens tentam compreender o universo à sua volta na busca de um significado para o absurdo existencial que a vida às vezes nos impõe. Em vez de fornecer respostas prontas, o autor envolve o leitor com perguntas que nos acompanham até o final da leitura de cada conto, fazendo-nos refletir sobre essas questões, escolher o melhor desfecho para algumas de suas histórias, ou simplesmente, dar uma boa gargalhada. O resultado é pura reflexão, poesia e divertimento.

O que escreveram sobre o livro

Teolinda Gersão

A escritora portuguesa Teolinda Gersão assim apresenta o livro no texto da 4ª. capa:

“Histórias roubadas” é um livro irônico e divertido, em que pequenos absurdos, memórias, acidentes e acasos são tingidos pela imaginação e pelo enorme prazer de efabular. Pelo ritmo acelerado, e a diversidade dos assuntos, pode talvez aproximar-se da crônica: também aqui narrativas múltiplas e diversas, partindo não importa de onde, se desenvolvem, com mão segura, de uma forma breve. Assim, por exemplo, “Sobre ondas e bancos de areia” entrelaça um banho de mar em que há risco de vida, incursões e divagações literárias e uma história breve do Rio de Janeiro; “A avó do Wesley” é a descoberta inesperada do eu e do mundo; encontramos alusões a Borges, e a muitos outros autores e livros; crítica social interna; grandes perguntas sem resposta, por vezes poéticas ou metafísicas; finais felizes – talvez a prazo – e finais abertos, de escolha múltipla; e mesmo uma história sobre o perigo de escrever histórias, (“roubadas” ou não). O que prevalece, no entanto, do início ao fim é a esperteza de viver por entre os pingos das calamidades, e o atrevimento de fruir o que é possível, com um sorriso irônico e contagiante. Entra-se na leitura como num meio de transporte rápido, e a viagem faz-se em boa companhia. Arrisco vaticinar que este livro pertence ao número dos afortunados, que têm numerosos leitores à sua espera.

Lima Trindade

No texto da orelha, o escritor Lima Trindade descreve o livro desta maneira:

“O que você faria se descobrisse uma parte da sua vida descrita num livro até então desconhecido por você, mas um grande sucesso de vendas e críticas? Se, numa tarde qualquer de domingo, reclinado na poltrona de um cinema, percebesse que o filme rodando na tela à sua frente, um filme premiado, retratasse justamente uma experiência muito particular sua? Ou se a peça de maior destaque no teatro da sua cidade expusesse justamente os seus segredos mais íntimos para o grande público? Ficaria feliz? Sentiria raiva? Consideraria um insulto? Uma homenagem? Essa é apenas uma entre tantas provocações que Décio Torres Cruz nos lança logo na abertura de seu “Histórias Roubadas” e que, invertendo e somando novas perspectivas, cores e ritmos, paira pelos contos que compõem o volume.

Exibindo capacidade criativa e um amplo repertório de referências da cultura de massa contemporânea, o autor coloca em xeque as noções binárias que temos de realidade e ficção, originalidade e cópia, erudito e popular, literário e não literário, apropriação e roubo. Curiosamente, trata-se do mesmo crime orquestrado por Maurício, o médico que decide se tornar escritor no conto “O ladrão de histórias”, e por Ricardo, o diretor de cinema de “Era uma vez uma cidadezinha”. Ambos, personagens e mentores de um jogo de espelhos que ultrapassa o recurso da metalinguagem para revelar o aspecto cômico existente não somente nos palcos, mas também por trás dos panos.

As histórias aqui se bifurcam, sinalizam diferentes caminhos e possibilidades de chegada. Algumas vezes, estilhaçam-se em múltiplos fragmentos. Podem evocar os universos oníricos de Poe e Borges, como acontece em “O mistério dos jogos mentais” e “Estradas possíveis e trilhas não percorridas”, podem flertar com o gênero crônica de viagem em “Uma aventura húngara”, “Margô e seus sonhos postergados” e “As tias”, podem parecer tiradas de uma corriqueira notícia de jornal, como é o caso do cinematográfico “Um dia na periferia da vida”. Ou, então, podem tocar nossa sensibilidade pelo lirismo da mesma maneira que em “Nas fronteiras do encantamento”, onde acompanhamos o movimento de mudança de cidade de uma família do interior pelo olhar de um garoto, e “A avó do Wesley”, conto de paixão juvenil dotado de uma prosódia rápida e vertiginosa:

“Ele ia lá para casa e nós lutávamos na sala do apartamento, e o leblon era um apartamento recém-acarpetado. A casa sendas era perto da selva de pedra que era o nome de uma novela e perto do favelão, e o leblon era o favelão que era a casa sendas que era a selva de pedra que era um apartamento recém-acarpetado que era uma novela.”

Por fim, resta-nos perguntar: se toda arte se faz com elementos extraídos do manancial de nossa memória coletiva, não teria razão Proudhon ao afirmar que toda propriedade é um roubo? O que seguramente vai determinar o alcance, se curto ou longo, de determinada expressão artística será justamente a maneira singular de realizá-la, o conhecimento que seu autor tem do ofício e a coragem para correr riscos. Embora seja um livro de estreia neste gênero, Décio Torres Cruz não nos decepciona em suas escolhas. Que seus leitores se tornem cúmplices deste seu delito.”

Sobre o autor

 Décio Torres Cruz é escritor, crítico literário, poeta, professor e pesquisador da Ufba e da Uneb. Acaba de ser eleito para a cadeira 19 da Academia de Letras da Bahia. Ex-bolsista da Fulbright, obteve seu Ph.D. em Literatura Comparada na State University of New York (SUNY) em Buffalo, EUA. É mestre em Teoria da Literatura, especialista em Tradução e bacharel em Letras/Língua Estrangeira, com concentração em língua e literaturas de língua inglesa pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Fez pesquisa pós-doutoral sobre as adaptações de Shakespeare para o cinema em Londres.

Já atuou como tradutor, intérprete, professor e coordenador de cursos e de atividades culturais de vários institutos de idiomas da Bahia e do Rio de Janeiro. Possui também experiência como ator amador e diretor teatral, tendo dirigido e participado de diversas peças no Brasil e nos Estados Unidos. É pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura da UFBA, membro do conselho editorial de várias revistas acadêmicas, e  avaliador de cursos e instituições de ensino superior para o MEC/INEP.

É autor dos livros: Histórias roubadas (Guaratinguetá, SP: Penalux, 2022), contos; Paesaggi interiori (Soresina, Itália, 2022), poemas; Paisagens interiores (São Paulo, Patuá, 2021), poesia; The Cinematic Novel and Postmodern Pop Fiction: The Case of Manuel Puig (Amsterdã; Filadélfia: John Benjamins, 2019), livro que faz parte da série da Fédération Internationale des Langues et Littératures Modernes (FILLM) da Unesco; Literatura (pós-colonial) caribenha de língua inglesa (Salvador: Edufba, 2016); Postmodern Metanarratives: Blade Runner and Literature in the Age of Image (Londres; Nova York: Palgrave Macmillan, 2014); English Online: Inglês instrumental para informática (São Paulo: Disal, 2013); O pop: literatura, mídia & outras artes (Salvador: Quarteto/Uneb, 2003; 2013); Idea Factory: 100 Games and Fun Activities for your English Classes (Salvador: Edufba, 2012; 2013); Inglês para Administração e Economia (São Paulo: Disal, 2007); Inglês para Turismo e Hotelaria (São Paulo: Disal, 2005); e Inglês.com.textos para informática (São Paulo: Disal, 2003). Além desses livros, publicou poemas, contos, crônicas, traduções em antologias e revistas e escreveu diversos artigos e capítulos de livros em português e em inglês em várias áreas. No ano passado, foi um dos autores vencedores do concurso Um rolé pelo Rio, com a crônica “O jardim do coração partido”, publicado em e-book pela iiLer da PUC-Rio em parceria com a Unesco. Este ano, participou da coletânea de poemas Sarau impresso (São Paulo: Patuá, 2022), publicou dois poemas traduzidos do espanhol para o português do poeta José Garcia Nieto no livro Às margens do douro (Salvador: Instituto Cervantes, 2022) e da coletânea de contos Todos os Saramagos (no prelo).

FICHA TÉCNICA:

Livro: Histórias roubadas

Autor: Décio Torres Cruz

Lançamento: 1º de setembro de 2022.

Horário: 19h

Local: Restaurante Engenho Velho

Endereço: R. Lauro de Freitas, 36 – Centro – Alagoinhas – Bahia

Preço: R$45,00

Contato do autor:

E-mail: deciotc@ufba.br

Telefones: (71) 991884102 / 3264-0865

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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