Ex-deputado usou própria mãe como laranja, diz Procuradoria
Helicóptero, maquinário pesado, dinheiro vivo, óculos, cadeiras de rodas e até boletos do IPTU de um dos imóveis do então deputado Luiz Argôlo (ex-PP, atual Solidariedade-BA) foram pagos pelo doleiro Alberto Youssef, afirma a Polícia Federal.
Preso na manhã desta sexta-feira (10) em nova fase da Operação Lava Jato, Argôlo usou a própria mãe como laranja e o pai para receber dinheiro do operador da propina na Petrobras.
Considerado por Youssef como um “deputado promissor de quem um dia poderia cobrar a conta”, o jovem baiano (34 anos) passou a ser um interlocutor frequente do doleiro. O montante dos valores repassados ao então congressista em dinheiro vivo ainda é desconhecido – variava entre R$ 20 mil e 200 mil mensais, conforme a proximidade do período eleitoral e vinha das propinas de empreiteiras por obras na Petrobras, segundo a delação de Alberto Youssef.
Argôlo chegou a usar o cargo de deputado para tentar conseguir um financiamento para que Youssef reformasse um hotel de sua propriedade, em Porto Seguro (BA). A conclusão dos procuradores é que o ex-deputado “efetivamente vendeu seu mandato parlamentar” ao doleiro.
Fora os pagamentos em cash, a Procuradoria rastreou pelo menos R$ 2,68 milhões referentes a supostas propinas embolsadas por Argôlo entre 2011, início do seu mandato de deputado federal, e março de 2014, quando foi deflagrada a Lava Jato. O dinheiro fluía através de camadas de empresas de fachadas, operadas por laranjas ou mesmo com o pagamento de dívidas do congressista diretamente pelos empregados de Youssef.
MAQUINÁRIO PESADO
Em 2013, o ex-deputado conseguiu negociar a locação de maquinário pesado para uma obra tocada pelo consórcio MGT na Bahia. Como não tinha os equipamentos que ofereceu, Argôlo recorreu a Youssef que, em fevereiro de 2013, deu um sinal de R$ 520 mil pelos contratos de locação com opção de compra de uma escavadeira Doosan S340 (R$ 680.156,44) e dois tratores compactadores Bomag (R$ 280.484,00 cada).
Como a operação foi feita pela Malga Engenharia, controlada por Youssef e da qual Argôlo seria sócio-oculto, não haveria ligação de Argôlo com o negócio, não fossem os detalhes escondidos em cláusulas dos contratos. O próprio congressista figurava como fiador da opção de compras das máquinas. Vera Lúcia de Barros Correia, a mãe do ex-deputado, aparece como a “fiel depositária” da escavadeira e dos tratores.
No mesmo ano, o pai dele, Manoelito Argôlo, recebeu um depósito de R$ 60 mil feito pela contadora de Youssef, Meire Poza. A justificativa do depósito é a suposta venda de um terreno de 111 mil m2 do ex-deputado ao doleiro. Os R$ 47 mil restantes da transação foram pagos por Poza a Élia dos Santos Hora, uma espécie de braço-direito de Argôlo no seu escritório político em Salvador.
O uso de laranjas e empresas de fachada na venda do terreno levantou a suspeita entre os investigadores de que a transação foi apenas um disfarce para pagamento de propina com dinheiro desviado com o superfaturamento de obras de empreiteiras na Petrobras.
Apontada pela Procuradoria como a “gerente dos negócios escusos” de Argôlo, Élia Hora também foi presa nesta sexta. Entre 2011 e 2014, pela conta bancária de Meire circularam R$ 757 mil que foram sacados em dinheiro vivo para serem repassados ao político.
IPTU E CADEIRAS DE RODAS
Um dos símbolos da Lava Jato foi a apreensão de um helicóptero Robinson R44, azul. Como a Folha revelou em setembro do ano passado, a aeronave foi dada de presente por Youssef a Argôlo. Na fase da operação deflagrada na manhã desta sexta, vieram à tona detalhes da operação: em 2012, o político pagou somente a entrada de R$ 250 mil, e Youssef bancou os R$ 600 mil restantes.
O doleiro pagava despesas prosaicas do político, como o IPTU de um imóvel de Argôlo em Camaçari, na região metropolitana de Salvador. Numa troca de e-mails de fevereiro de 2013, uma empregada de Argôlo reclama a um dos funcionários de Youssef que “a primeira parcela ainda está em aberto” e, no anexo da mensagem, o boleto com o código de barras.
Em 20 de setembro do ano passado, o congressista enviou uma mensagem em seu Blackberry pedindo a que Youssef pagasse a metade de uma dívida que tinha com a compra de óculos e cadeiras de rodas. Youssef depositou R$ 21.500 numa conta da Multimed, a fornecedora de Argôlo.
Fonte: Folha de São Paulo