Estaleiro: crise ameaça mais 600 empregos

Depois da demissão de mais de três mil trabalhadores das obras civis, agora são os cerca de 600 funcionários da área industrial da Enseada Indústria Naval (EIN) que estão ameaçados de perder o emprego. “Diante do desaquecimento das atividades, novas demissões não estão descartadas”, afirmou na terça-feira, 10, a assessoria de comunicação da empresa.

O deputado federal Bebeto Galvão (PSB), que preside o sindicato dos trabalhadores da indústria pesada na Bahia (Sintepav), estima que a “sobrevida” do estaleiro baiano dure, no máximo, 40 dias. “Sem uma equação financeira, o estaleiro deve anunciar o fim também das atividades operacionais, como já o fez no nível construtivo”, prevê.

Desde o final do ano passado, já foram demitidos mais de três mil trabalhadores que atuavam na construção do estaleiro no município de Maragojipe, no Recôncavo baiano. No mês passado, o consórcio formado para a construção do empreendimento foi encerrado oficialmente  com  82% das obras concluídas.

Na parte industrial, a  EIN concluiu, logo depois, a construção de um superguindaste e agora mantém apenas alguns serviços de soldagens e instalações elétricas. “Não temos ainda demissões programadas  para os próximos dias, mas se a indústria naval brasileira continuar nesse ritmo de desaquecimento, não teremos outra alternativa”, frisou a empresa, por meio da  assessoria.

Pendências

Nem mesmo os R$ 125 milhões, que foram liberados pelo Banco do Brasil no final do mês passado, foram considerados suficientes para segurar novas demissões em massa. “O dinheiro já foi usado como capital de giro, praticamente na mesma semana,  para o pagamento de   pequenas  pendências de curto prazo”, informou a empresa.

Os recursos disponibilizados pelo  BB foram, na verdade, uma espécie de antecipação dos R$ 600 milhões que estavam previstos para o empreendimento pelo Fundo de Marinha Mercante (FMM), e que até agora continuam retidos. O maior impasse ao projeto, entretanto, está na falta de repasses da empresa Sete Brasil, que contratou a Enseada para a construção de seis navios-sonda, a serem usados para exploração do petróleo na camada pré-sal.

Sem recursos e com imagem abalada no mercado internacional, a  Sete Brasil, da qual  a  Petrobras tem participação acionária, está ameaçada de fechar. A empresa foi citada nas investigação de corrupção  na estatal, deflagrada pela Polícia Federal na Operação Lava Jato. Desde então, deixou de contar com recursos do  Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), afetando a indústria naval em todo o país.

“É lamentável que os trabalhadores brasileiros paguem pela falta de ética de gestores de uma empresa”, diz Bebeto Galvão. “O caso precisa realmente ser investigado, e os culpados, punidos; entretanto, o projeto não pode ser paralisado, até porque envolve projetos macroeconômicos, como a exploração do pré-sal no Brasil”, diz.

No total, a Sete Brasil investiria US$ 25 bilhões na construção de 29 navios-sonda para a Petrobras, contratando estaleiros como o de Paraguaçu.  Só no estaleiro baiano seriam construídos seis navios.

 

Fonte: A Tarde

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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