Especialistas analisam melhora na aprovação do governo Lula na pesquisa Genial/Quaest

Antes com tendência negativa, a curva do índice de aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mudou de direção este mês, puxada principalmente pela melhora do desempenho da atual gestão entre os mais pobres. Uma nova pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira revela que a proporção de brasileiros que endossam o trabalho do presidente oscilou positivamente pela primeira vez em 2024 e avançou quatro pontos percentuais para 54%, marca que havia sido registrada pela última vez em dezembro.

Com o resultado, a fatia que aprova o governo se descolou da que desaprova, grupo que, por sua vez, recuou de 47%, em maio, para atuais 43%. Especialistas ouvidos pelo GLOBO creditam a variação positiva a um aumento da eficiência na comunicação das políticas e a realizações da gestão federal.

Ainda segundo o levantamento, o percentual de brasileiros que veem o governo do petista como positivo passou de 33% para 36%, frente a maio, enquanto o grupo que o considera negativo foi de 33% para 30% no período. As oscilações ocorreram próximo à margem de erro geral da pesquisa, que é de dois pontos percentuais para mais ou menos, mas interrompem o viés desfavorável a Lula que vinha desde outubro do ano passado.

No Palácio do Planalto, a expectativa é que os números da nova pesquisa levem o presidente a redobrar a aposta na estratégia de percorrer o país para anunciar entregas e conceder entrevistas a veículos regionais. Há também um cálculo de risco de que a aprovação poderá oscilar negativamente nos próximos meses caso Lula derrape em falas públicas.

A Quaest ouviu 2 mil entrevistados espalhados por 120 municípios entre 5 a 8 de julho. A variação positiva no quadro geral é explicada, entre outros fatores, pelo avanço da aprovação do governo na parcela da população que ganha até dois salários mínimos, que já é, tradicionalmente, uma base de Lula e do PT, e representa quase um terço da amostra da pesquisa.

No grupo com menor renda, o índice subiu sete pontos percentuais, para 69%, enquanto a reprovação recuou nove pontos, para 26%. Para esse estrato da população, a margem de erro é de quatro pontos para mais ou menos. Para Josué Medeiros, cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a dedicação do presidente na agenda interna, com entrevistas a emissoras de rádio e presença em inaugurações, sobretudo no Sudeste, reforça a comunicação com a população de mais baixa renda.

— A queda na popularidade no ano passado ocorreu após uma cirurgia do presidente, quando ele precisou parar de falar e, posteriormente, se dedicou a agendas internacionais. Por meio das entrevistas recentes, o presidente conseguiu se comunicar bem com o eleitorado mais pobre que, mesmo com a visão de que a situação econômica atual não é boa, pode ter avaliado a gestão de forma mais positiva — aponta Medeiros.

Já Isabel Veloso, professora da FGV Direito Rio e Doutora em Ciência Política, ressalta que a “capacidade de Lula em se conectar com a população por meio de uma retórica acessível” desempenhou um papel significativo na variação positiva mostrada pela Quaest.

O levantamento traz, por outro lado, sinalizações ainda negativas para o governo na área econômica. A situação neste setor piorou, nos últimos 12 meses, para 36% dos entrevistados, melhorou para 28% e permaneceu do mesmo jeito para 32%. Houve apenas variações dentro da margem de erro na comparação com o resultado da pesquisa passada. Questionados sobre o poder de compra, 63% responderam que ele diminuiu no mesmo período, enquanto 21% disseram que aumentou e 14% afirmaram que ficou igual.

— A oscilação na avaliação positiva mesmo com a percepção de que a economia piorou pode ser explicada pela confiança e esperança da população depositada em Lula para reverter a situação. Programas sociais, aumentos salariais e políticas voltadas para os mais vulneráveis podem ter um efeito compensatório sobre a percepção negativa da economia — avalia Veloso.

O governo também melhorou sua avaliação entre as mulheres (aprovação foi de 54% para 57%). Segundo o diretor da Quaest, Felipe Nunes, a mudança foi mais evidente na faixa entre 35 e 59 anos. A diferença entre aprovação e desaprovação na população feminina passou a ser de 18 pontos percentuais, enquanto, entre os homens, essa distância é de três pontos (50% de aprovação ante 47% de reprovação).

— No cenário de polarização nacional, o que o governo tem conseguido até aqui é melhorar o seu desempenho dentro do eleitorado que é mais típico dele. Ainda tem dificuldade de dialogar com o eleitorado que não votou ou preferiu outra opção política em 2022 — disse Nunes à GloboNews.

Houve oscilação positiva ainda na região Sudeste do país, a mais populosa e que foi estratégica para Lula no último pleito. O cenário hoje é de empate: a desaprovação cedeu de 55% para 48%, enquanto a aprovação passou de 42% para também 48%.

Entre os evangélicos, segmento mais próximo de Bolsonaro e no qual Lula tenta uma aproximação, a desaprovação recuou seis pontos, na comparação com maio, mas continua predominante. Hoje, 52% rejeitam a atuação do presidente. Em fevereiro, porém, esse índice era de 62%. O cientista político Josué Medeiros avalia que a melhora na avaliação do setor se dá, principalmente, por conta do crescimento da efetividade da comunicação do presidente com a parcela mais pobre da sociedade.

— Lula conseguiu falar com esse eleitorado de baixa renda. Isso incide no setor evangélico, que está inserido nas camadas mais pobres da sociedade — destaca.

Lula busca se reaproximar dos evangélicos, que já aderiram ao seu governo em mandatos anteriores, desde o início de sua terceira gestão. Depois de lançar uma campanha publicitária, batizada de “Fé no Brasil”, o petista acenou ao enviar uma carta para a Marcha para Jesus de São Paulo, em maio. Em paralelo, o titular da pasta dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, iniciou uma ofensiva para abrir diálogo com igrejas e lideranças. A vereadora de Goiânia Aava Santiago (PSDB) também tem atuado como uma ponte entre o governo e pastores.

Apesar dos resultados, há sinalizações negativas para o governo em relação à percepção da população sobre a economia do país. O cenário piorou nos últimos 12 meses, por exemplo, para 36% dos entrevistados e continuou do mesmo jeito para 32%. Chegam a 63% os que relatam que o poder de compra no país diminuiu, mesmo com a desaceleração da inflação.

Além disso, para sete em cada dez brasileiros, houve alta nos preços dos alimentos no último mês. Embora a taxa de desemprego tenha atingido em maio o menor nível para o período desde 2014, conseguir um trabalho está mais difícil hoje do que há um ano para 52%. O mesmo contingente da população (52%), no entanto, tem a expectativa de melhora da economia nos próximos 12 meses, contra 27% que esperam piora.

Para Josué Medeiros, cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o foco de Lula na agenda interna, com entrevistas a emissoras de rádio e presença em inaugurações, sobretudo no Sudeste, reforçou a comunicação com a população de baixa renda:

— A queda na popularidade no ano passado ocorreu após uma cirurgia do presidente, quando ele precisou parar de falar e, posteriormente, se dedicou a agendas internacionais. Por meio das entrevistas recentes, o presidente conseguiu se comunicar bem com o eleitorado mais pobre que, mesmo com a visão de que a situação econômica atual não é boa, pode ter avaliado a gestão de forma mais positiva.

A pesquisa Genial/Quaest mostra que a ampla maioria dos brasileiros concorda com opiniões recentes de Lula. Para 90% dos ouvidos, por exemplo, o salário deve ser aumentado todo ano acima da inflação. A maioria acredita que os juros no Brasil são muito altos (87%), que carnes consumidas pelos mais pobres deveriam ter isenção de imposto (84%) e que o governo não deve satisfação ao mercado, mas aos mais pobres (67%).

As críticas do presidente à política de juros do Banco Central são outro ponto de convergência. Embora apenas 34% tenham ficado sabendo da reação de Lula ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, 66% responderam concordar com as declarações do petista contra a manutenção da taxa básica de juros no patamar atual, enquanto 23% disseram discordar. A aprovação foi alta mesmo entre eleitores de Bolsonaro (51% concordam).

Apesar dos indicadores, auxiliares do presidente avaliam que a aprovação de Lula é sensível às suas declarações. O presidente alcançou 46% de reprovação em fevereiro, segundo a Genial/Quaest, após comparar a guerra entre Israel e Hamas com o Holocausto. O Planalto acredita que parte da melhora na avaliação se deve aos resultados de ações do governo que começam a fazer efeito. Há uma percepção de que políticas anunciadas em 2023 e no início de 2024, como a volta de programas, passaram por uma fase de maturação e começam a dar resultados em camadas da população.

A análise é compartilhada pela cientista política e professora da FGV Direito Rio Isabel Veloso, que vê impacto das ações sociais:

— Programas sociais, aumentos salariais e políticas voltadas para os mais vulneráveis podem ter um efeito compensatório sobre a percepção negativa da economia.

A pesquisa constatou alto índice de conhecimento e aprovação de vitrines da atual gestão, mas também desafios. De um lado, foram bem avaliados o Farmácia Popular (conhecido e aprovado por 86%), e Bolsa Família (80%). Do outro, o Novo PAC, voltado para alavancar obras, ainda é desconhecido por 51%.

A professora Isabel Veloso avalia que o discurso adotado por Lula “gera uma expectativa de que o governo pretende atuar de forma mais assertiva para melhorar as condições econômicas dos mais pobres”. Esta posição pode explicar a aprovação das falas recentes do petista.

— A alta aprovação dessas políticas indica que a população está mais alinhada com medidas que busquem reduzir desigualdades e aumentar a renda real — ressalta a pesquisadora.

A opinião crítica do presidente à política de juros do Banco Central é outro ponto de convergência entre o pensamento do petista e o da população brasileira. Dois terços dos entrevistados (66%) responderam concordar com as afirmações de Lula neste tema, enquanto 23% discordam e 11% não sabem ou não responderam. De acordo com Felipe Nunes, da Quaest, os dados reforçam a tese de que a economia está perdendo protagonismo como o principal problema do país.

A maioria (53%) dos entrevistados não acredita que as falas de Lula tenham sido a principal razão da alta do dólar. Outros 34% responsabilizam principalmente o discurso do presidente pela escalada da moeda americana e 13% que não sabem ou não responderam.

O pesquisador Josué Medeiros aponta que, diante do sentimento antissistema que fortalece a direita brasileira, o presidente Lula optou pelas críticas à política do Banco Central como forma de acenar ao eleitorado que “defende as instituições e luta pelo povo”.

Medeiros aponta também que questões políticas recentes que provocaram a posição defensiva da extrema direita, como notícias falsas em relação as chuvas no Rio Grande do Sul, a PEC das Praias e o PL Antiaborto, deixaram a população “cansada”. Neste sentido, o reforço da polarização com críticas de Lula ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em entrevistas traz resultados positivos ao petista.

— A sociedade está muito traumatizada desde 2015, com crises econômicas sucessivas em governos de diferentes presidentes. Episódios recentes, como o indiciamento de Bolsonaro no caso das joias, fragilizam a direita. Não faz sentido Lula não explorar a rejeição ao ex-presidente para melhorar sua popularidade — aponta o pesquisador.

Fonte: O Globo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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