Entidades debatem avanço e tratamento da sífilis no estado

Em 2016, 545 casos da doença (em nascidos vivos) foram registrados só na capital até esta quinta - Foto: Editoria de Arte A TARDE

O aumento da contaminação por sífilis no estado preocupa especialistas da área e instituições da saúde. Entre 2007 e julho de 2016, 10.664 casos da doença foram registrados em gestantes residentes na Bahia, conforme dados da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab).

Segundo o órgão, a taxa no período variou de 1,4 caso a cada 1.000 bebês nascidos vivos para 10,6 casos por cada 1.000 nascidos vivos – um crescimento de 657% nos últimos nove anos.

Em Salvador, segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), 659 casos (18,38 a cada 1.000 nascidos vivos) foram registrados em 2015. Em 2016, até o fechamento desta edição, 545 casos (15,20/ 1.000 nascidos vivos)  foram contabilizados pela SMS.

São justamente esses números, considerados alarmantes pela Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis – Regional Bahia, os alvos de uma discussão que a entidade promoverá no próximo dia 14, Dia Nacional de Combate à Sífilis, das 8h às 13h, na sede do Ministério Público (MP), no Centro Administrativo da Bahia.

“Nosso objetivo é fazer com que as pessoas se mexam, porque parece que elas perderam o medo de se infectar com as doenças sexualmente transmissíveis”, afirma o ginecologista e obstetra Roberto Fontes, membro da Sociedade Brasileira de DST – Regional Bahia.

O promotor de justiça Rogério Queiroz, coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Saúde (Cesau) do MP, explica que, entre os temas a serem abordados no encontro estão as dificuldades enfrentadas para o tratamento da doença na rede básica de saúde.

Ele cita, por exemplo, o inquérito civil aberto pelo MP em 2011 para exigir do município a criação de um plano de combate à doença. Após o cumprimento da determinação, afirma Queiroz, problemas como a resistência de profissionais para aplicação da penicilina – único remédio que trata a sífilis – ainda atrapalham.

Tratamento eficaz

Essa resistência, explica ele, é oriunda de uma antiga resolução federal que restringia o uso do remédio, por medo de reações anafiláticas. Outras portarias, entretanto, revogaram a restrição em 2011 e tornaram obrigatório o uso da penicilina em pacientes atendidos na rede básica de saúde.

“O uso da penicilina é o tratamento mais eficaz para a doença e é ele que vai impedir a transmissão vertical (de mãe para filho) durante a gestação”, explica.

Queiroz destaca, ainda, a importância dos testes rápidos de sífilis nos postos de atenção básica. Esses exames são responsáveis por identificar, logo no início do pré-natal, a infecção da gestante. “O tratamento com penicilina, se for feito corretamente, impede a transmissão vertical”, ensina.

O assunto já foi até alvo de nota técnica conjunta dos conselhos regionais de Enfermagem (Coren) e Medicina (Cremeb). No documento,  eles defendiam o uso da penicilina pelos profissionais de saúde e a Portaria nº 3161/11, que obriga a aplicação do medicamento em casos de sífilis.

Segundo a coordenadora do Setor de DST/Aids da SMS, Helena Lima, “ações de capacitação in loco” estão sendo feitas pelo órgão para identificar  problemas enfrentados na aplicação da penicilina. Ela afirma que há casos em que  bebês são infectados após o tratamento da mãe, pois o marido da grávida não é tratado e segue transmitindo o vírus.

Atualmente, explica, 110 unidades da rede municipal de saúde realizam o teste rápido para a identificação precoce da doença, inclusive em mulheres grávidas: “Todos os casos de nascido vivo contaminado são investigados”. “Temos trabalhado para que o pré-natal tenha qualidade,  a sífilis seja logo identificada na mãe e o tratamento aconteça”, afirma.

Essa investigação, segundo o promotor Rogério Queiroz, poderá resultar, a partir de agora, em punição à unidade ou aos profissionais que cuidam das grávidas. Ele diz que  pedirá ao município a abertura de sindicância para cada caso de bebê nascido com sífilis congênita.

A responsabilização da rede ou do profissional de saúde acontecerá, explica Queiroz, nos casos em que fique provado que a mãe da criança infectada pelo vírus não teve a opção de fazer o teste rápido ou  o tratamento com a penicilina.

Médico alerta para sinais da doença

Os principais sintomas de contágio da sífilis, explica o ginecologista e obstetra Roberto Fontes, são manchas pelo corpo, ínguas, feridas na boca e na genitália, entre outras.

Na fase avançada da doença, que demora até 20 anos para chegar e pode levar à morte, o vírus pode atingir até o coração e o sistema nervoso central, de acordo com o especialista, que é membro da Sociedade Brasileira de doenças sexualmente transmissíveis.

Essa evolução, ensina Fontes, é muito mais rápida em bebês. Por isso, eles podem nascer com sequelas graves, como cegueira, surdez, demência, deficiência psicomotora etc.aq

O ginecologista defende a prevenção com preservativos como a melhor forma de evitar a doença. Após essa “barreira de infecção”, afirma ele, a outra forma de prevenção é o teste rápido. Em gestantes, esse exame pode evitar a infecção vertical (da grávida para o bebê).

A transmissão, em casos de sífilis adquirida, se dá por contato sexual, com sangue ou com objetos perfurocortantes contaminados. “Mas é basicamente uma DST, as outras formas de transmissão são apenas teóricas, porque praticamente não existe”, explica.

Fonte: A Tarde

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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