Emparedado por Aécio e Dilma, Campos tenta crescer com discurso da nova política

A menos de 20 dias do início do horário eleitoral, as campanhas de Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves (PSDB) comemoram os primeiros resultados de suas respectivas estratégias para impedir a chamada “terceira via” na disputa presidencial. De um lado, o PT trabalha desde o início pelo confronto direto com o PSDB. Do outro, os tucanos enxergam a oportunidade de incorporar um discurso mais ameno em relação à administração petista, tomando para si a bandeira da “continuidade com mudança”. Emparedado pelos adversários, o socialista Eduardo Campos tem dificuldade de firmar o discurso e avançar nas pesquisas de intenção de voto, além de custar para arrecadar doações para o caixa da campanha.

A campanha de Aécio tem aproveitado o cenário polarizado para incorporar o discurso mais favorável a políticas sociais implantadas pelos governos petistas. A estratégia tucana mira exatamente o que se considera eleitor natural de Eduardo Campos: os insatisfeitos com o PT, que não querem abrir mão dos programas implantados por Dilma e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Integrantes da campanha de Aécio identificam este público como espaço principal de crescimento de Campos, daí a decisão de apresentar Aécio como candidato que reconhece avanços e é capaz de aperfeiçoar programas como Mais Médicos, Bolsa Família, entre outros.

“A tendência desta eleição é polarizar com Dilma. É claro que Eduardo Campos concorre conosco nesta posição”, admite César Gontijo, ex-secretário nacional do PSDB, atualmente integrado à campanha tucana. A vantagem para assegurar este eleitorado, na avaliação de Gontijo, está na estrutura partidária tucana, mais consolidada que coligação socialista, principalmente nas regiões Sul e Sudeste.

“Campos e Aécio apresentam as mesmas qualidades. Os dois têm tradição política e mantêm a imagem de bons governadores de seus estados. No entanto, para ocupar o campo oposicionista, Aécio contou com uma estrutura partidária mais robusta nos grandes centros. Isso representa um canal importante para difundir as ideias e a própria candidatura. Campos não tem este canal tão consolidado, por isso enfrenta mais dificuldades de crescer”, analisou Gontijo.

Já os coordenadores da campanha da presidente Dilma Rousseff optam pelo discurso cauteloso em relação a Campos, mas consideram que, ao menos num primeiro momento, as bases para a polarização da disputa presidencial estão dadas. “Eduardo Campos ainda é pouco conhecido. Temos que esperar para ver o que vai acontecer. É necessário considerar que, às vezes, quando se torna muito conhecido, não aparecem só as virtudes”, ponderou o coordenador-geral da campanha petista, Rui Falcão.

Entre os mais próximos da presidente, ainda há uma preocupação, admitida nos bastidores, de que a candidatura de Eduardo Campos fique pequena demais. O temor, nesse caso, é com o risco de o socialista optar por desembarcar no campo tucano, em busca de maior protagonismo.

A campanha do socialista, o entendimento é que a disputa com Aécio ocorre justamente em relação aos votos dos eleitores que querem garantia de continuidade das políticas implantadas, mas se dizem “desencantados” com os governos petistas. Já em relação à campanha de Dilma, Campos tenta não ser ignorado como candidatura capaz de crescer além dos cerca de 10% que conseguiu até agora nas pesquisas. “A candidatura de Dilma tenta ignorar Eduardo Campos para forçar a polarização com Aécio. Mas ninguém tem dúvida de que Campos tem uma capacidade grande de crescimento, tão logo a campanha comece na televisão”, considera o deputado Júlio Delgado, um dos articuladores mais próximos de Eduardo Campos.

O socialista ainda enfrenta condições mais adversas em relação ao tempo que terá na TV. Por isso, sua campanha apostará mais nas inserções e entrevistas de telejornais diários que no próprio horário eleitoral, no qual Campos tem um tempo de pouco mais de um minuto e meio. A campanha de Aécio terá quatro minutos e meio de tempo de TV. Já Dilma, tem mais que a soma dos dois candidatos no horário eleitoral. A campanha da presidente terá 11 minutos e 48 segundos.

Na tentativa de quebrar o emparedamento, Eduardo Campos se empenha em subir o tom de críticas contra Aécio e Dilma. O socialista também investe cada vez mais no discurso da “nova política”, defendido por sua vice, Marina Silva. O ex-deputado Maurício Rands, que está no centro da campanha, explicou que o candidato tem procurado se diferenciar do tucano com um discurso direcionado para os mais jovens, principalmente para agentes das manifestações que ganharam as ruas no ano passado nas principais cidades brasileiras. “O discurso de Eduardo Campos representa o vento de uma pauta que o Brasil quer”, definiu.

Para Rands, Campos tem mais condições de angariar votos dos insatisfeitos com o governo de Dilma Rousseff, que Aécio. “Esta batalha Aécio perde. Há muito mais chance de os desencantados com o governo Dilma desembarcarem na candidatura de Eduardo Campos”, avaliou.

Para Júlio Delgado, o grande desafio da campanha será convencer os eleitores, em menos de dois meses de campanha na TV, que Eduardo Campos poderá significar uma “nova forma de fazer política”. “O eleitor que quer essa nova política isso ainda está dizendo que não quer nada com a política. Ele tem ojeriza à classe política. O desafio é se apresentar como alternativa a esta política que está aí em tão pouco tempo. Mas ninguém tem dúvida que é neste segmento que Eduardo Campos vai crescer”, avaliou o deputado.

‘Plagiador’

Outra linha que vem sendo adotada pelos socialistas é apontar Aécio como uma espécie de “plagiador” de ideias lançadas pelo pernambucano. Um dos exemplos citados nos bastidores foi a fala de Aécio na sabatina realizada pela Confederação Nacional na Indústria (CNI) na última quarta-feira (30), quando o tucano usou o fatídico placar de 7×1 do jogo entre Alemanha e Brasil na Copa para criticar a condução de Dilma da economia. De acordo com integrantes da campanha, Aécio usou a analogia feita pelo jornal Financial Times e divulgada por Campos nas redes sociais cinco dias antes da sabatina da CNI.

“Lamento esse 7 a 1, principalmente por ter sido no meu Estado, mas isto é o que menos me preocupa. O que me preocupa é o que o governo vai deixar aí 7% de inflação e 1% de crescimento”, disse o tucano. O post lançado por Campos na internet no dia 25 de julho dizia: “Não gosto nem de lembrar daquele jogo, mas prestei atenção na provocação do jornal Financial Times, que prevê um novo 7 x 1 na vida dos brasileiros ainda esse ano: 7% de inflação e 1% de crescimento do PIB”.

Outro caso citado pela campanha socialista se refere à Petrobras. Na sabatina, Aécio disse as mesmas palavras usadas por Campos no discurso que o antecedeu ao dizer que a estatal “é a única empresa que quanto mais vende, mais prejuízo tem”.

Ou ainda a promessa feita por Aécio de enviar, como primeiro ato de governo, uma proposta para simplificar a arrecadação de impostos. A proposta apresentada por Campos na CNI e em discursos anteriores se compromete com o envio, na primeira semana de governo, de uma proposta de reforma tributária ao Congresso.

Já a campanha do tucano evita polemizar com Campos e diz que as acusações de cópia das ideias são irrelevantes. Para os tucanos, mais parece uma tática de quem está por baixo na disputa.

Fonte: iG

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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