Criança de 9 anos recebe autorização para mudar de gênero

juiz Anderson Candiotto

Uma criança transexual de 9 anos se tornou a primeira do Brasil a ser autorizada pela Justiça a mudar de nome e gênero, na quinta-feira, 28. A decisão foi tomada pelo juiz Anderson Candiotto, da 3ª Vara da Comarca de Sorriso, a 420 km de Cuiabá, no estado de Mato Grosso.

Segundo a determinação de Candiotto, “a personalidade da criança, seu comportamento e aparência remetem, imprescindivelmente, ao gênero oposto de que biologicamente possui, conforme se pode observar em todas as avaliações psicológicas e laudos proferidos pelo Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual, do Instituto de Psiquiatria, do Hospital das Clínicas de São Paulo, evidenciando a preocupação dos pais em buscar as melhores condições de vida para a criança”.

Em entrevista à revista Veja São Paulo, a menina, que nasceu em um corpo masculino, comemorou a vitória. “Agora, não vou ter mais problemas nas chamadas na escola, às vezes me chamavam pelo nome masculino, no postinho de saúde e nas viagens, e era sempre era aquele zum zum zum quando olhavam para mim e para o meu documento”, desabafou, enquanto acariciava o cabelo de uma boneca. “Eu me sentia muito mal, mas agora isso vai mudar”, completou.

Os pais da criança também ficaram realizados com a conquista da filha e falaram sobre as dificuldades enfrentadas ao decorrer da ação judicial. “Foram três anos de batalha na Justiça eu ia direto no fórum cobrar uma resposta e os documentos sempre estavam na mesa do juiz para decidir”, contou o pai.

“Agora que deu certo a felicidade é muito grande, já imagino quando ela for arrumar emprego ou casar vai ser tudo mais fácil”, disse a mãe. “A gente ficou surpreso porque nem transexuais adultos, que estão há anos tentando na Justiça, conseguiram o que ela conseguiu”, completou.

Mudanças

Com a decisão, a menina está prestes a se tornar também a primeira criança com fortes indicativos de transexualidade a tomar medicamentos com o objetivo de bloquear a puberdade masculina e incentivar a feminina.

Assim, todos os processos de transformação do corpo ocorridos nessa etapa da vida de um homem, em decorrência da produção de testosterona, como o crescimento de pelos, laringe e orgãos genitais, além das mudanças na voz e músculos, serão substituídos pelos de uma mulher. Desde o crescimento dos seios até a definição das formas do corpo acarretada pelo acúmulo de gorduras em determinadas partes, como quadris e coxas.

Início

O comportamento feminino do mais novo dos dois filhos fez com que o casal buscasse ajuda no Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual, em São Paulo, com fotos da criança, então com 4 anos e 10 meses, em diversas situações. Em algumas, usando as roupas de menino presentes em seu guarda-roupa e, em outras, peças e maquiagens encontradas no armário da mãe.

Em um dos momentos da triagem, o psiquiatra responsável, doutor Alexandre Saadeh, mostrou uma das imagens da criança em trajes masculinos e perguntou: “Quem é nessa foto?”. “Sou eu vestida de menino”, respondeu.

Era o início de um acompanhamento psiquiátrico e psicológico de longa duração, precedido por anos de tentativas falhas de forçar a menina a assumir o gênero com o qual nasceu, como castigos e artifícios religiosos.

Nesse período, a criança chegou a apresentar sinais de depressão e agressividade e não queria mais sair de casa. Foi nesse momento que os pais passaram a criá-la como ela sempre quis e se identifica, uma menina.

Fonte: A Tarde

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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