Com caixa apertado, Planalto tenta vencer crise no discurso

Com a necessidade de cortes profundos nos gastos do Estado, o governo está de mãos atadas para dar uma resposta eficaz à crise de imagem que atinge principalmente à presidente Dilma Rousseff. Em crises anteriores, o governo petista apoiou-se no lançamento programas sociais e de infraestrutura, desonerou ou até mesmo zerou impostos. Agora, sem recursos disponíveis para medidas como estas, Dilma busca outra receita para arrefecer os ânimos principalmente da classe média.

A presidente lançou mão de dois pontos que sempre foram considerados problemáticos em seu governo: o discurso e a articulação política. As manifestações mostraram que a crise de imagem da presidente é ainda maior que em momentos anteriores e com um poder de contaminação forte. Outros protestos já estão sendo organizados para o próximo mês. No último domingo, após as manifestações que tomaram várias capitais do País, o governo precisou limitar as respostas ao conjunto de ideias já lançadas e não executadas, todas sem envolvimento de aumento dos gastos.

A estratégia de usar o “verbo” em substituição à “verba” foi um conselho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmam interlocutores. Lula, que sempre foi considerado mestre no discurso, contou com um orçamento capaz de rebater o desgaste em tempos de crise.

Diante da “marolinha”, apelido dado por ele aos efeitos da crise financeira no Brasil em 2008, Lula reduziu IPI de carros e eletrodomésticos da linha branca, incentivando o consumo e garantindo a preservação de empregos na indústria. Em meio às turbulências causadas pela denuncia do mensalão, Lula pode lançar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os discursos sobre esses programas e ainda sobre o Minha Casa, Minha Vida serviram para alimentar as duas campanhas de Dilma.

Agora, o governo aposta em explicar os motivos da paralisação dos gastos e enaltecer a responsabilidade em se tomar as medidas de austeridade na economia, postura diferente da adotada por Dilma antes das eleições, quando adotou como lema: “para o País seguir mudando”. Após os protestos, a presidente chegou a reconhecer que podem ter ocorridos erros na dosagem de otimismo em relação ao desempenho da economia e tentou explicar sua escolha, feita no ano passado, de preservar os empregos, persistindo nas políticas anticíclicas.

“É possível discutir se podia ser um pouco mais ou um pouco menos, é possível discutir. Agora, isto não explica porque que nós estamos nessa situação. O que explica o porquê que nós estamos nessa situação é um fato constatável, a economia não reagiu. Ninguém pode negar que nós fizemos de tudo para a economia reagir, ninguém pode negar esse fato. Podem falar o seguinte: então era melhor deixar quebrar, deixar quebrar? Eu não acredito nisso”, justificou Dilma em sua primeira entrevista após os protestos.

Pacotes

Dilma mandou seus ministros darem um ar de “novidade” a um pacote de ideias anunciado na campanha, quando precisou responder sobre o envolvimento de aliados e petistas nas investigações sobre o suposto esquema de propina instalado na Petrobras. Foi o caso do pacote anticorrupção anunciado oficialmente ontem, em cerimônia no Palácio do Planalto. Outro pacote que deve ganhar espaço na estratégia é o da reforma política. Nesse caso, o governo aponta o “sistema político” e não os políticos, como causa de grande parte da corrupção.

Em meio à falta de recursos, os ministros de Dilma têm se esmerado em viagens, sem, no entanto, anunciar um tostão sequer para programas do governo. A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, que coordena o maior programa social do governo, o Bolsa Família, tem se esmerado no discurso de melhoria da qualidade do gasto público.

O programa que beneficia atualmente cerca de 14 milhões de pessoas tende à estabilidade no que se refere ao seu custo. Isso porque, ao longo de sua vigência cerca de 3,5 milhões de famílias deixaram de receber o benefício por terem melhorado seus níveis de renda, dando lugar para outras famílias identificadas pela chamada busca ativa. O governo calcula que, em abril próximo, quando haverá a atualização cadastral, passem a ser beneficiadas mais 400 mil famílias.

Fonte: iG

 

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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