Cientista político diz que economia favorece candidatos de oposição
Há menos de quatro meses para as eleições deste ano, o cientista político da Universidade de Brasília, David Fleischer, assegura que haverá segundo turno para a escolha do presidente da República. Segundo ele, Dilma Rousseff, candidata à reeleição, disputará a preferência dos eleitores brasileiros com o senador Aécio Neves.
Doutor pela Universidade da Flórida, Fleischer acredita que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá forte influência nas eleições deste ano.
Nascido em Washington (EUA), o cientista político, que está no Brasil desde 1962, enterra qualquer chance de o ex-presidente voltar nas eleições deste ano.
Em entrevista exclusiva ao Blog do Noblat, Fleischer, que é pai de dois filhos, disse ainda que o programa Bolsa Família continuará sendo um trunfo para o PT.
O senhor arriscaria um palpite sobre quem vai vencer as eleições presidenciais deste ano?
Acho difícil. Dilma está caindo e vai para o segundo turno. O difícil é saber com quem. O Aécio Neves está na frente. E tem mais chance de ir para o segundo turno. Mas o Eduardo Campos não está em campanha pelo país inteiro.
Qual a diferença desta eleição presidencial para as que se passaram desde a redemocratização?
Tem um fator chamado PMDB. Houve a convenção do partido na semana passada, com destaque para as dissidências que não querem continuar com a aliança com Dilma. Situação parecida aconteceu em 2002, quando o partido estava aliado com a candidatura de José Serra (PSDB-SP), com a Rita Camata (PMDB-ES) como vice. Mas parte dos estados apoiou o ex-presidente Lula.
O cenário atual é mais favorável para os candidatos de oposição, tendo em vista que a população pede mudança na política?
Exatamente. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso passou por isso em 2002. Seu governo não tinha boa avaliação por causa do apagão elétrico, em 2001, e por causa da economia, que não estava bem. A economia, outra vez, não está bem. Hoje, falta competitividade à indústria, sobra dificuldade nas exportações e há baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O modelo econômico baseado no consumo está esgotado.
Aécio Neves e Eduardo Campos ainda não conseguiram reverter a insatisfação da população em intenções de voto. Qual é o problema nos discursos desses candidatos?
A Dilma tem toda a máquina federal à disposição para manipulá-la a seu favor. Isso é importante para um candidato à reeleição. E conta com o Bolsa Família. A campanha do Aécio começou a embalar agora. Temos dificuldade para lembrar o que ele fez de importante no Senado, em três anos e meio. Programas apresentados, projetos de lei apresentados, grandes discursos. Isso não tem. Eduardo Campos tem muita coisa para mostrar do que ele fez como governador durante dois mandatos, mas Pernambuco é muito distante do centro do poder.
Nas últimas três eleições, o ex-presidente Lula foi decisivo (ele ganhou duas vezes e a Dilma outra). Ele será decisivo, outra vez, nesta eleição?
Ele entrará com força na campanha a partir de julho. Em 2010, ele foi a campo contra senadores do DEM e do PSDB. Saiu vitorioso e entregou um Senado favorável à Dilma. O Lula continua com influência. Tanto que, se a Dilma continuar caindo, haverá pressão para ele voltar.
E o senhor acha que o Lula voltará se a Dilma despencar nas pesquisas?
Ele não vai arriscar voltar e pôr em risco seu legado, apesar de as pesquisas indicarem que ele poderia ganhar no primeiro turno. Tem muita sujeira debaixo do tapete que estão aparecendo. E a economia não está nada bem.
O discurso do medo e a Bolsa Família, que tiveram presentes nas últimas eleições, tendem a favorecer a presidente Dilma?
O Bolsa Família teve muito peso nas duas últimas eleições (2006 e 2010). Vários colegas fizeram pesquisa comparando os municípios com número de famílias que recebem Bolsa Família. A correlação é muito forte. Quanto mais pessoas beneficiadas com o programa, mais votos vão para os candidatos do PT.
Qual o papel das redes sociais nesta eleição, sobretudo neste momento em que os partidos pagam militantes para atacar adversários?
Os partidos e os políticos estão sempre tentando cooptar as redes sociais para ganhar massa e ter militantes. Vimos um fenômeno, no ano passado, em que parte dos protestos foi organizada via redes sociais, sem envolvimento de partidos e sindicatos. Agora, os protestos estão sendo organizados por movimentos sociais, por partidos e por sindicatos. Com isso, os protestos tendem a acontecer em menor escala.
Por que vem crescendo a insatisfação dos partidos da base aliada com a presidente Dilma?
Dilma tem aversão a sentar e negociar com políticos. Isso desagrada os políticos. Os partidos não têm muito acesso e participação nas decisões. Se você tem um candidato à reeleição como Dilma, que está caindo nas pesquisas, e a economia não bomba como antigamente, a tendência é que os partidos fiquem receosos.
Os políticos da base aliada começam a ver a derrota de Dilma como algo provável, é por isso o apoio a candidatos de oposição nos estados?
Ou que ela pode vencer com uma margem pequena. Essa margem pequena ou a derrota pode ter efeito nas eleições estaduais. Se você está aliado com um candidato em alta, como ela estava em 2010, isso respinga nas campanhas nos estados. O contrário também acontece.
O PT tem hoje a maior bancada na Câmara e a segunda maior do Senado. Qual partido sairá fortalecido desta eleição no que diz respeito ao Congresso?
O PT quer se tornar o maior partido do Senado e desbancar o PMDB. Essa é outra razão de descontentamento do PMDB. É possível que o PT mantenha uma tendência de crescimento. E há uma tendência de diminuição das bancadas da oposição.