Cada dia de hospitalização aumenta risco de infecção por bactéria resistente

Existe uma forte relação entre o tempo de hospitalização e o risco de infecção por bactéria multirresistente. Um estudo realizado nos Estados Unidos foi o primeiro a quantificar esse risco e pontuou que cada dia de internação aumenta em 1% o risco de infecção por bactéria multirresistente, caso o paciente venha a se infectar por bactéria.

As bactérias são as principais causadoras de infecções hospitalares, quarta causa de mortes no mundo segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atrás apenas das doenças cardiovasculares, câncer e violência. No Brasil, a taxa de infecção hospitalar é de 15% segundo o Ministério da Saúde, mais alta do que em países da Europa e nos Estados Unidos, onde o índice é de 10%.

“A resistência a antibióticos é crescente e um problema que estamos enfrentando atualmente no mundo. E acho que a gente só consegue ver aquilo que quantificamos”, disse Tonya Smith, da Universidade de Utah, sobre a dimensão do problema e a importância da pesquisa. Ela é uma das autoras do estudo apresentado neste mês na reunião da Sociedade Americana de Microbiologia, em Washington.

No estudo, os pesquisadores analisaram dados de 949 casos documentados de infecções por bactérias multirresistentes – resistentes a até três classes de antibióticos. Nos primeiros dias de hospitalização, a porcentagem de infecções associadas a estas bactérias foi de cerca de 20% e aumenta de modo constante até quatro ou cinco dias, quando saltou dramaticamente, atingindo mais de 35% em 10 dias. Estatisticamente equivale dizer que há um risco adicional de mais de 1% por dia de internação.

“Os resultados do estudo enfatizam que adquirir uma infecção multirresistente é um dos riscos de estar em um hospital e também serve de argumento contra internações desnecessárias ou longas hospitalizações”, disse John Bosso, da Universidade da Carolina do Sul, também autor da pesquisa. “O desafio com bactérias multirresistentes é que temos menos antibióticos para escolher ou, em alguns casos extremos, nenhum antibiótico eficaz”, disse.

Embora sirva de alerta contra hospitalizações desnecessárias, o estudo ressalta um problema crescente no mundo, o das bactérias multirresistentes provocado pelo uso exagerado de antibióticos. As bactérias mais detectadas no banco de dados do estudo foram Pseudomonas aeruginosa, Enterobacter , Klebsiella e Escherichia coli. Enquanto as três primeiras são frequentes em pacientes hospitalizados, a última (e. coli) é a causa mais comum de infecções do trato urinário em todo o mundo.

Existem protocolos de medidas de segurança para redução da incidência de infecção no ambiente hospitalar. É uma medida imprescindível, mas não suficiente, explica Marisa Zenaide Gomes, pesquisadora do Laboratório de Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz.

Ela explica que lavar as mãos e tomar medidas de assepsia ajudam, mas não bastam. É preciso que os antibióticos não sejam tomados indiscriminadamente. “A questão da infecção hospitalar vem se agravando no mundo inteiro. É uma situação alarmante porque hoje há um uso indiscriminado de antibióticos. Muitas vezes usam antibiótico para tratar infecções que nem são por bactéria”, diz Marisa.

A pesquisadora destaca que muitas infecções respiratórias são virais e não devem ser tratadas com antibiótico, que atua no combate apenas de bactérias. “O paciente toma o remédio, que não tem efeito na infecção, mas que seleciona as bactérias no corpo dele”, disse ela. Isto é, o antibiótico mata as mais fracas e deixa espaço para proliferação das mais resistentes. 

Os dados apresentados no estudo americano surpreenderam a pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz. “É um número alto e mostra que é preciso medida de controle e também evitar internações desnecessárias e longas”, disse. 

Não existem dados sobre o risco progressivo em hospitais brasileiros, mas acredita-se que sejam parecidos aos do estudo americano.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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