Alagoinhas recebe o espetáculo de dança Raimundos

RAIMUNDOS 1

A dança que saiu dos terreiros de candomblé para ganhar palcos e escolas de dança do Brasil e do mundo tem um dos seus precursores na Bahia, Mestre King, cuja trajetória de 50 anos, divisora de águas na dança brasileira, será celebrada com a circulação do espetáculo Raimundos, a homenagem coreográfica dirigida por Bruno de Jesus, que terá apresentações em Alagoinhas (05 e 06 de março), Juazeiro (12 e 13 de março) e Salvador ainda no primeiro semestre.

Raimundo Bispo dos Santos, conhecido como Mestre King, foi o primeiro homem negro formado pela Escola de Dança da UFBA, tendo ingressado em 1971. O artista formou os principais nomes da dança afro-brasileira na Bahia, tais como Zebrinha, Paco Gomes, Armando Pequeno, Augusto Omolu e tantos outros. A escolha do nome Raimundos vem da associação dos criadores da montagem, que pensaram a obra a partir das influências do Mestre junto a gerações de coreógrafos e bailarinos homens. 

A obra parte da pesquisa sobre a diversidade no contexto cultural afro-brasileiro, a partir de investigação dos elementos de matriz africana como a simbologia de orixás, religiosidade, destacando o corpo como sagrado e o corpo como festividade através de um olhar contemporâneo. Num diálogo entre dois bailarinos negros, a coreografia explora aspectos das danças de orixás, a puxada de rede, o samba de roda, como componentes que configuram a dramaturgia do espetáculo.

De acordo com o coreógrafo Bruno de Jesus, “celebrar 50 anos de carreira do Mestre King, é celebrar a história da dança na Bahia. Falar dele é falar da gente, da nossa memória, da nossa ancestralidade. A dança como filosofia dela mesma, isso que tento transbordar com o espetáculo Raimundos, assinar dirigir, coreografar e dançar este espetáculo me emociona, me faz refletir”. Para o artista, a exaltação da memória viva de King é “perceber a importância das figuras masculinas na dança baiana, atravessar gerações com desdobramentos da formação das danças de matrizes brasileiras e mergulhar e construir historias e movimentos e poesias. Esse lugar do espetáculo me leva para outros lugares, de transformação. A dança gerando potencias políticas em sua comunicação corpo e poesia”.

Mestre King 

Nascido em 1943, no mesmo ano de criação do Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento, King conheceu a dança já adulto, após prestar serviço militar e uma temporada na Marinha do Brasil. Ao integrar o Coral do Mosteiro de São Bento, a curiosidade pelas artes foi desperta, primeiro pela música, depois pela capoeira até chegar na dança. A percussão aproximou o artista do grupo Olodumare, onde teve seu primeiro contato com a dança e desejo de aprofundar o conhecimento. Assim, em 1971 prestou vestibular para Escola de Dança da UFBA, destacando-se como o primeiro homem negro a ingressar no curso, que tinha uma maior presença de mulheres, brancas em sua maioria. Em paralelo, a música o levou para frequentar os terreiros do candomblé, onde percebeu a riqueza dos movimentos dos orixás. O resultado disso foi que King desenvolveu um método que mistura elementos de danças folclóricas e populares brasileiras com as dos orixás do Candomblé, que resultou na dança afrobrasileira.

“Eu observava os movimentos e pensava em levar isso para dentro das minhas aulas. Aos poucos fui copiando o que via e trazendo para fora dos terreiros. O que sem dúvida, foi uma ousadia, pois muitas danças eram fechadas do ambiente do candomblé e minha atitude recebeu várias críticas naquele momento, mas também muita receptividade. Muitas vezes, a dança e a música colocavam os alunos em transe e eu tinha que dizer…pera lá” recorda-se King, que acabou contribuindo para difusão da cultura afro-brasileira, conquistando adeptos de todo o Brasil e fora dele, além de revelar a beleza dos cultos ancestrais.

O coreógrafo é considerado uma das maiores autoridades em tradições da música e dança afro – brasileiras, já tendo criado mais de 100 coreografias e dividiu seu conhecimento em diversos países do mundo, dando aulas em universidades nos Estados Unidos e na Europa. Como professor do Sesc Bahia, na unidade do bairro de Nazaré, King formou gerações de bailarinos e ainda hoje, aos sábados, dá aulas gratuitas na Escola de Dança da UFBA, ainda propiciando que jovens dançarinos possam ter contato com o Mestre.

Serviço

Espetáculo de Dança Raimundos 

05 e 06 de março – Centro de Cultura de Alagoinhas, às 20h, na cidade de Alagoinhas;

Entrada gratuita

FICHA TÉCNICA

Coreografia e concepção: Bruno de Jesus

 Bailarinos: Anderson Rodrigo e Bruno de Jesus

 Concepção de luz: Anderson Rodrigo

 Operação de luz: Moisés Victorio

 Sonoplastia: Fred Lopes

 Co-criação cenográfica: Jorge Alberto

 Música do solo Sala do couro: Jose Maia Emanoel

 Voz off poema: Fábio de Santana

 Voz off música: Mestre King

 Poema “Preto que dança”: Fernando Gonzaga

 Produção: Inah Irenam

 

Fonte: Mônica Santana – Consultoria e Assessoria em Comunicação e Mobilização

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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