Nadinho completa 71 anos e quer continuar trabalhando na Praça J.J.Seabra – Maurílio Fontes

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Nascido em 25 de janeiro de 1945 na Vila de Nossa Senhora da Guia, mais conhecida como Riacho da Guia, distrito de Alagoinhas, o taxista José Naido dos Santos está na Praça J.J.Seabra há 45 anos e sete meses. Muitas histórias para contar. Mas o nome não o identifica de imediato e sim o apelido – Nadinho -, que todos conhecem.

Em 1946, seu pai, Galdino dos Santos Silva, autônomo, se transferiu para Alagoinhas, mais precisamente para Santa Terezinha, antigamente conhecida como Padre Godinho. “Nasci em 45 e cheguei aqui em 46, por isso não tenho nenhuma lembrança da Vila Nossa Senhora da Guia”, disse.

“Naquela época, Santa Terezinha era cortada pela estrada que levava a Aracaju, Recife e para todo o Nordeste”, lembra Nadinho, recordando “também que tudo era chão, onde é hoje a rua Padre Godinho”. “Minha vida era ali jogando bola, gude, matando passarinho e armando arapucas para pegar preá”.

Os estudos foram iniciados na Escola do Rotary Clube e no Brazilino Viegas, mas logo abandonados. Nadinho começou a trabalhar muito cedo com seu pai, dono de um caminhão, que fazia transporte de pedra, cascalho e outros produtos para Salvador em estrada de barro. Entre os 16 e 18 anos, “emprestado” por seu pai, começou a dirigir um caminhão velho de seu tio, Pedro dos Santos, mesmo sem ter carteira de motorista. “Naquele tempo não tinha problema dirigir sem carteira. Eu era motorista, mecânico e tudo”, revelou.

Em abril de 1964, Nadinho conseguiu sua carteira de motorista. Os examinadores da chamada Volante faziam perguntas técnicas e não exigiam muito daqueles que queriam obter a carteira.

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Nova fase

Com a carteira, surgem novas oportunidades profissionais. Em novembro de 1964, Nadinho passa a dirigir carros de turma “encostados” na Petrobras, transportando trabalhadores para o campo de Buracica. “Não eram empresas e sim pessoas que tinham carros e encostavam na Petrobras”, afirmou.

Ele recorda suas atividades nesta área: “Trabalhei um ano com um rapaz chamado Estevão, de Feira de Santana, com Zé do Coreto, um dos primeiros de Alagoinhas a ter carros veículos encostados nas Petrobras, com Simplício, atividade que exigia ficar 24 horas no campo. O serviço era muito ruim.”

Entre idas e vindas, dirigindo veículos F 350, caminhões da marca Ford e Chevrolet, Nadinho viveu as mudanças que Alagoinhas experimentou na década de 60. “Em 67, os caminhões começam a ser substituídos por kombis no transporte dos funcionários da Petrobras”, revelou.  

Antes do petróleo, a economia da cidade estava na baseada nas atividades da Leste, curtumes e trapiches. “A Petrobras teve um impacto muito grande”.

Praça

Depois de muitos anos trabalhando para terceiros, Nadinho resolve ser autônomo e ingressa na “praça” em junho de 1970, com ponto em frente à Loja Barreto. Nos últimos 45 anos e sete meses, o ponto de táxi na Praça J. J. Seabra, além de ser a garantia do sustento, se tornou o principal ambiente social de seu dia a dia.

Uma longa trajetória na qual fez grandes amigos, trabalhou com alguns prefeitos de Alagoinhas e mais que isso, proporcionou a Nadinho a vontade de ter sempre os carros mais novos e confortáveis disponíveis no mercado. Desde, à certa altura de sua vida, que fossem da marca Ford.

Um fusca (Volkswagen), ano 1968, foi o começo de tudo na vida profissional do taxista Nadinho. “Passei a ser autônomo, porque sempre tive vontade de trabalhar para mim mesmo. Entrei no ramo de táxi e gostei. Quando cheguei, encontrei na praça  Aero Willys, Rural, DKV”. 

Em 1972, Nadinho começa sua trajetória de comprador de carros zero quilômetro ao adquirir um TL 4 portas, carro com design esportivo, que foi o primeiro da cidade. Outra ousadia: dois anos depois, em 1974, compra um Maverick. Na época, só existiam três destes veículos em Alagoinhas dos seguintes proprietários: Antônio Pena, comprou o primeiro, um Maverick GT, esportivo; o dono da Loja Barreto também comprou um; o terceiro foi de Nadinho. Gostou tanto que comprou seu segundo Maverick. “Judélio também comprou um Maverick”.

A seguir, em 1978 comprou um Corcel II vermelho na Norauto, em Feira de Santana. Com a inauguração da IVEP, em 2 março de 1979, o empresário Nipu Fulco Caldas vendeu a Nadinho o primeiro veículo da revenda: um Corcel branco. Depois, em 81, comprou outro Corcel, ano 80.  Depois vieram Del Rey, Verona, Fiesta, outro Fiesta, desta vez modelo hacth, Escort (com qual ficou seis anos), entre outros veículos, até chegar ao atual, um Focus. Que Nadinho já quer mudar por um outro novinho.

Até hoje, Nadinho é cliente da IVEP. Sua preferência pela FORD ninguém consegue modificar.

Lembranças

Grandes lembranças de Miguel Santos Fontes, prefeito entre 1977 e 1982, para quem Nadinho trabalhou, transportando os filhos entre Alagoinhas e Salvador. “Uma pessoa que sempre me considerou, um ser humano maravilhoso, homem que não tinha duas caras”, recorda.

No primeiro mandato de Judélio Carmo, entre 1973 e 1976, fez muitas viagens para a Prefeitura de Alagoinhas. “Não ficou me devendo nada”, ressaltou.

Com Judélio, Nadinho teve uma relação tumultuada e distante no decorrer do segundo mandato do político – de 1983 a 1988. A reaproximação só veio quando José Francisco dos Reis (Chico Reis), um dos grandes amigos de Nadinho, na campanha de 1988 à Prefeitura de Alagoinhas contou com o apoiou do então prefeito.

Muitas viagens com Chico Reis, histórias engraçadas, solidariedade e uma amizade que perdura por quase 40 anos. Depois de Chico, Nadinho nunca mais prestou serviço a prefeitos de Alagoinhas. E não tem saudade.

Ele cita Gilberto do “Frangolins”. “Cliente nota mil”.  Dr. Barreto, pai do empresário Barretinho Góes, foi seu cliente durante muitos anos.  Francisco Ferreira, “Seo” Lourinho, “homem correto e excelente pagador”.  “Dr. Bujão era meu amigo’. Faz referência a Raimundo Lirio e a Nipu Fulco Caldas, com quais sempre manteve muita proximidade.

Sem nominar, Nadinho afirmou que conviveu com clientes de todos os tipos. Brincalhões, fechados, mão abertas, pão duros, esquisitos. Muitos se tornaram especiais: Albino Carneiro, que se tornou seu amigo, é cliente desde 1972. Parte da antiga clientela já morreu, mas persistente, Nadinho continua exercendo seu ofício.

Histórias de Alagoinhas, histórias familiares, alegrias, tristezas, viagens, conversas sobre futebol estão impregnados na trajetória de Nadinho.

Prestou e presta serviço a empresas da área de petróleo da região, para bancos, empresas de seguro, profissionais que atuam em Macaé e em outros países.

Em 45 anos e sete meses de praça, segundo ele, nunca foi vítima ou causador de acidente de trânsito.

O celular, em sua opinião, é um grande facilitador para o trabalho. Antes, as dificuldades eram enormes para fechar as “corridas”. “A gente dependia do telefone fixo”,

Aos 71 anos (completados neste 25 de janeiro), ele quer continuar trabalhando. Parte de sua vida está na Praça J.J. Seabra. E nas estradas da Bahia e de vários estados nordestinos. 

É feliz com o que faz. “Graças a Deus não me julgo inferior a ninguém e sempre fui bem tratado pelos clientes”, garante Nadinho.  “Ganhei tudo na vida por trabalhar na praça”.

Para uns, Nadinho tem uma grande qualidade. Para outros, um defeito incorrigível: é torcedor apaixonado (e extremamente passional) do Esporte Clube Bahia. 

Os carros da marca Ford e o Esporte Clube Bahia são duas paixões de Nadinho, aos quais ele devota fidelidade total. Suas razões, a própria razão desconhece.

Ele segue em frente torcendo por seu time do coração e ouvindo as resenhas esportivas de várias emissoras de rádio de Salvador. Outra especialidade de Nadinho: “conhece” os profissionais da imprensa radiofônica, a quem dirige ácidas críticas pelas posturas ao microfone.

Nadinho, com sua personalidade forte, não tem papas na língua. É amigo dos amigos e não poupa críticas aos desafetos. Partido dos Trabalhadores, incluído. Mas diz não gostar da política e nem dos políticos atuais.

A esta altura da vida, não se permite mudar. Seguirá em frente, sendo quem sempre foi: íntegro, transparente, crítico e apaixonado pelo ofício que abraçou há quase cinco décadas.

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Fotos: Alagoinhas Hoje

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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