Privatização transforma aeroportos brasileiros em shoppings

A concessão de aeroportos para a iniciativa privada nesta década tem modificado o modo como o comércio nesses locais é administrado.

Sem a obrigação de fazer licitações nem de seguir regras específicas para a seleção das marcas, as concessionárias vêm baseando decisões de mix de lojas e organização do espaço em pesquisas com consumidores e estratégias próprias para cada cidade.

Além disso, expansões aumentaram consideravelmente a quantidade de espaços disponíveis. Em Guarulhos, onde um novo terminal foi inaugurado em 2014, o número de lojas foi de cerca de 100 para os atuais 232.

A tendência é que esses centros comerciais se tornem cada vez mais parecidos com shoppings, tanto do ponto de vista das marcas disponíveis como do layout de seus interiores, diz Marcos Hirai, sócio da consultoria BG&H Real Estate, especializada na seleção de pontos comerciais.

No Galeão (RJ), foram abertas 60 lojas desde que a iniciativa privada assumiu o controle do aeroporto, em 2014.

Chegaram lá marcas como McDonald’s, Starbucks, Havana e Vivara, além de operações temporárias da loja de cosméticos MAC e da marca de roupas Tommy Hilfiger.

Sandro Fernandes, diretor comercial do RIO Galeão, diz que o aeroporto passou a atuar ativamente na seleção das marcas. As decisões são baseadas em pesquisas com passageiros, afirma.

A localização das lojas também está sendo reavaliada e, alguns casos, visando aumento de consumo.

“Historicamente, elas ficavam antes do raio-X e, depois que você passava por lá, tinha só um cafezinho sem graça e nada para fazer. Agora, depois do raio-X, você vai ver um mall [shopping] com várias lojas para relaxar”, diz Aluizio Margarido, diretor comercial de Viracopos.

De acordo com Margarido, a administração passou a ter maior flexibilidade para negociar e até fazer concessões em prol de uma marca que consideram estratégica para as vendas e a imagem do aeroporto.

René Baumann, diretor comercial do BH Airport, em Belo Horizonte, descreve a estratégia da seleção de lojas a partir do que chama de “três círculos do varejo”.

Há marcas para compras de conveniência (itens que são mais procurados por passageiros), as de confiança (mais conhecidas, que o passageiro sabe o preço) e as que proporcionam a sensação de ter chegado a um novo destino.

No último grupo estão marcas regionais, que mostram a culinária e o artesanato mineiro, incluindo cafés, queijos e cachaças especiais.

Desde a concessão do aeroporto, foram abertas cinco lojas com identidade mineira e reformadas outras três.

A estratégia de buscar a mistura entre internacional e regional aparece em outras cidades. O Galeão diz estar procurando marcas que tragam um sabor carioca para preencher espaços que serão resultado de ampliação em curso, a ser concluída em abril de 2016.

Já em Viracopos, a aposta está nos cafés do interior de São Paulo e em uma loja de itens da cultura country.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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