Alckmin diz que não há fato para impeachment de Dilma

Reeleito para governar São Paulo pela quarta vez, o tucano Geraldo Alckmin diz que “não tem nenhum fato que justifique” um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Afirma que, na oposição, PSDB não deve ser “Cassandra de apocalipse”.

“Nós acabamos de sair de um processo eleitoral em dois turnos. Não tem nenhum fato que justifique isso [impeachment presidencial]. Acho que temos agora é que trabalhar. Quem ganhou a eleição é governar. E quem perdeu é fiscalizar, exercer o papel democrático, patriótico de fiscalização”, declara.

Na avaliação de Alckmin, essa nova fase da Operação Lava Jato, que prendeu os chamados corruptores, fortalece a democracia: “A corrupção precisa ser combatida permanentemente não em razão eleitoral, para ganhar a eleição, mas para não ter impunidade. (…) O país avança. A democracia se fortalece quando você tem o avanço do processo investigatório, o esclarecimento da questão e a punição exemplar dos responsáveis. Dos que receberam dinheiro e dos corruptores. Dos dois lados. Isso vai fortalecer a democracia”.

A respeito da futura revelação de nomes de deputados e senadores citados na Operação Lava Jato, o tucano diz que “essa questão precisa ser levada às últimas consequências”. Mas afirma ser necessário “o Congresso andar” e “fazer as reformas que precisam ser feitas”.

Oposição não deve ser Cassandra

Para ampliar a votação do PSDB numa futura eleição presidencial, Alckmin dá a sua receita: “Política é confiança e esperança. Política não é coruja que só pia agouro, Cassandra de apocalipse, não. Política é esperança. Mostrar que as pessoas podem melhorar, avançar. Não se obriga, se conquista. É nossa tarefa enquanto partido é levarmos essa mensagem a todo país, mostrando um novo caminho, uma nova proposta”.

Afirma que torce para que Dilma faça um segundo mandato melhor do que o primeiro. “O Brasil tem tudo para crescer. O Brasil é um país vocacionado para crescer”.

“Nosso partido perdeu a eleição nacional por pouco, mas perdeu. É dever fazer oposição. É tão patriótico você ser governo quanto ser oposição. Aliás, o governo até se beneficia de uma oposição vigorosa. Se beneficia porque corrige uma série de questões, chama atenção, corrige rumos. Então, eu acho que é importante ter oposição. E onde se faz essa oposição é no parlamento”, afirma.

Indagado se concordava com a avaliação do senador Aécio Neves, candidato derrotado do PSDB ao Planalto, de que teria havido estelionato eleitoral, o governador paulista diz: “Acho que houve muitos dados, muito terrorismo eleitoral no sentido de amedrontar na campanha eleitoral. Mas, enfim… a eleição passou. Agora é bola pra frente”.

Sobre uma eventual candidatura a presidente em 2018, ele sai pela tangente. Afirma estar empenhado em realizar um segundo mandato, que “o futuro a Deus pertence” e que não seria “hora de pensar em eleição”. “Quatro anos em política são quatro séculos.”

Alckmin voltou a criticar manifestantes que pediram intervenção militar: “Temos o dever de preservar e fortalecer a democracia. Qualquer questionamento da questão democrática, militares, não tem o menor cabimento e deve ter o nosso total repúdio.”

O tucano esteve em Nova York recentemente para obter um empréstimo de R$ 300 milhões do Banco Mundial em que a instituição dá a garantia. De acordo com o tucano, o primeiro do gênero para o Brasil. Recursos serão investidos em rodovias. Nessa viagem, considerou exagerado aquele discurso de o Brasil ser a “bola da vez”, no sentido econômico positivo, e que existiria hoje “um pessimismo exagerado, uma espécie de Brasilfobia, que é uma crise de confiança”

Indagado se o desafio de Dilma era conquistar confiança na economia, ele afirma: “Exatamente. A economia é como na psicologia. A perspectiva de futuro tem um efeito muito grande. Claro que nós vivemos um grande problema fiscal, porque quando a economia enfraquece, PIB zero, a arrecadação cai. Se a arrecadação cai, você tem problema fiscal. O primeiro desafio é esse de natureza fiscal, porque melhorando a situação fiscal, as coisas vão caminhando”.

Alckmin avalia que, na questão da meta fiscal de 2014 abandonada pelo governo, teria sido melhor não recorrer a uma nova maquiagem e assumir um déficit primário. “Lei precisa ser cumprida. Se não atingiu, é transparência absoluta. Não atingiu, vamos atingir em um ano. A meta para atingir é essa, o caminho é esse, o quadro é esse.” Alerta que o dólar em alta ajuda exportadores, mas pode elevar a inflação.

Alckmin critica o excesso de partidos políticos no país. “Essa fragmentação tira legitimidade, dificulta a governabilidade. No fundo, você está criando partido para exacerbar o personalismo”, afirma.

Diz ser equivocada a crítica do PT de que o PSDB varre a corrupção para debaixo do tapete. A respeito do cartel do metrô paulista e de contratos de energia da Alstom com o governo de São Paulo, afirma que são feitas comparações sobre “situações completamente distintas”. Diz ter interesse em averiguar se houve dano a São Paulo no caso do cartel a fim de cobrar ressarcimento das empresas aos cofres públicos.

“O governo é vítima. E para isso existe um órgão chamado Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que é um órgão federal do Ministério da Justiça. Então, a nossa disposição é colaborar. Agora, cabe ao Cade concluir a investigação. Não houve cartel: está esclarecido. Houve cartel: quem fez e punição exemplar”, declara.

Afirma que as acusações contra Robson Marinho, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, só vieram a público depois que ele deixou o PSDB e a Casa Civil do governo Covas. “O que que queremos: transparência. Até para fazer Justiça. Tem uma denúncia, está equivocada, está esclarecida e não fica tirando a reputação de pessoas sérias. Está investigado, há, sim, um problema, punição exemplar.”

Crise da água

“Se não tivéssemos investido R$ 9,3 bilhões só aqui na região metropolitana de São Paulo, não teríamos ultrapassado o período seco, numa falta de chuva que foi a maior desde 1930″, diz, em resposta à crítica de que faltou de planejamento do PSDB, partido que ocupa o Palácio dos Bandeirantes desde 1995.

Avalia que será possível fazer um acordo, com respaldo da ANA (Agência Nacional de Águas), a fim de utilizar água do rio Paraíba do Sul para consumo humano dos paulistas sem afetar o abastecimento do Estado do Rio de Janeiro. Diz que a presidente está disposta a ajudar nessa solução.

“O racionamento seria um erro do ponto de vista técnico e social. Técnico porque você fecha, a pressão vem a zero. Você zera, fechou o sistema. Quando volta, estoura cano. Então, você tem uma perda física. Com o que estamos fazendo, não tem essa perda. Então, seria esse o erro técnico. E o erro social porque não é como energia elétrica que, quando você liga, todo mundo recebe energia. Com a água, quem está na ponta vai receber dois dias depois. Então, você puniria a população mais necessitada”, diz Alckmin, criticando a ideia de racionamento e defendendo a opção de dar desconto na conta de água para consumir menos.

Pingue-Pongue

Criminalização da homofobia: “Em São Paulo, já é crime, porque nós criamos a primeira legislação. São Paulo é terra que não aceita intolerância”.

Descriminalização do uso da maconha: “Acho que esse debate deve ser feito, mas não tenho convicção hoje para fazer isso, de que isso possa trazer benefício. Mas o debate é importante”.

União civil entre pessoas do mesmo sexo: “Favorável”.

Principal desafio do Brasil: “É qualidade de vida, é renda, é salário. O papa João 23 dizia que o desenvolvimento é o novo nome da paz, porque não há paz verdadeira onde não há emprego, onde não há renda, oportunidade para as pessoas. Então, precisa ter ação, precisa ter políticas públicas, precisa ter trabalho para estimular atividade empreendedora. O Brasil precisa crescer para poder melhorar salário, renda, avançar mais”.

Fonte: IG

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

Menu de Topo