A oposição radicalizar após uma derrota eleitoral é um erro grave

1.Com menos de uma semana após a eleição de Dilma, o PSDB abriu a temporada de caça ao governo federal, tornando ácida a retórica, lançando em rede de whatsapp declarações duras de Aécio, convocando reunião para esta semana de forma a antecipar o confronto pela presidência da Câmara, e indo até ao questionamento,( Inócuo ), da apuração eletrônica junto ao TSE. Em resumo usa a tática de criar fatos para gerar memória do bom resultado obtido.

2. Esse é um erro triplo.  Primeiro porque a política ensina que deve-se deixar o vencedor fazer a sua festa sem criar argumentos de que os perdedores querem inviabilizar o país. Que tenham a carência do Natal ao Carnaval.  Segundo porque ao radicalizar termina criando as condições para o governo ampliar a sua base parlamentar mesmo que a um custo maior. E os “profissionais” sabem bem como aproveitar esses momentos.

3.Terceiro porque a conjuntura conspira contra o governo.  Em 1998 Fernando Henrique num quadro de crise econômica pré-eleitoral introduziu medidas fiscais e cambiais – digamos- flexíveis. E apontou para os riscos de uma vitória de Lula.  Agora Dilma faz o mesmo, do ponto de vista fiscal e apontou riscos dos avanços sociais regredirem.  Ambos tiveram sucesso eleitoral. Mas um período governamental crítico até hoje afeta negativamente a memória sobre o governo FHC.  E a probabilidade de vermos acontecer o mesmo com Dilma é muito grande.  Paciência deveria ser a palavra de ordem.

4. Em Getúlio 3, Lira Neto detalha as consequências do açodamento de Getúlio e Prestes na eleição no início de 1948, para vice-governador de S.Paulo.  Ademar de Barros e Dutra fecharam um acordo em torno do nome do genro de Dutra (Novelli Jr). Getúlio percorreu o Estado, numa série de comícios tendo que se expor a provocações e violências. Subiu ao palanque com Prestes.  Transformou a eleição num plebiscito nacional: a favor e contra Dutra em aliança com o governador Ademar de Barros. Seria a preparação da eleição de 1950. Não foi.

5. Perdeu e voltou a São Borja deprimido e o PTB estraçalhado. Quase se despede da política. Salgado Filho iniciou o processo de reconstrução do PTB enquanto Dutra formava um bloco,( a base aliada), com o PSD, a UDN e o PR, com mais de 80% dos deputados.  Mas Getúlio teve a sabedoria de reconhecer o erro, mergulhar num período silente, e ir costurando com calma a reorganização do PTB e a sua candidatura a presidente em 1950.  Vitoriosa.  O PSD se acomodou e se aproximou de Getúlio e voltou como aliado do PTB em 1955.  Em 1962 o PTB elegeu a maior bancada de deputados federais. Mas o PTB tinha Getúlio, e o quadro político atual é de entre-safra política.

6. O estilhaçamento partidário em 2014 com 28 partidos na Câmara de Deputados, não deve levar os partidos ao açodamento de fusões e composições.  Talvez este seja o pior momento. Numa Câmara em que o PT –maior partido- tem apenas 13,5% dos deputados federais, em que as crises – política e econômica- vão se aprofundar em 2015 e que a ansiedade por 2016 estará na ordem do dia no final do primeiro semestre, melhor é ter calma,e jogar com o tempo a favor da oposição. O PSDB ao radicalizar perderá o poder de coordenação e os partidos menores, poderão não tomar as melhores decisões para seus fortalecimentos.

7. Não adianta duelar com moinhos de vento. Cervantes ensinou isso há mais de 400 anos.

Fonte: Ex-Blog de Cesar Maia

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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