“Vitória no 1º turno surpreendeu”, dizem especialistas
A vitória de Rui Costa (PT) ao governo baiano, no primeiro turno, foi analisada como uma “surpresa” pelos especialistas políticos ouvidos ontem pela Tribuna da Bahia. A possibilidade de erros nas avaliações dos institutos de pesquisas, a estratégia política do atual governador Jaques Wagner (PT), os programas sociais e a capacidade do Partido dos Trabalhadores em mobilizar setores de classe, além da força em pequenos municípios do interior, foram algumas das considerações abordadas. A análise era de que havia uma forte perspectiva de o ex-secretário da Casa Civil ir para o segundo turno ao lado do ex-governador Paulo Souto (PT), que liderava as pesquisas, mas não a de que ele conquistasse na primeira etapa os votos válidos para se tornar o futuro governador da Bahia.
Ao destacar que não seria fácil explicar o quadro que levou ao resultado, o professor de Política da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Wilson Gomes, fez uma constatação: “A nossa eleição foi muito pouco pesquisada. A última pesquisa antes da véspera foi a de 24 de setembro. Houve um hiato muito grande até o dia 04 de outubro”. Segundo o especialista, o questionamento estaria centrado no crescimento de Rui na reta final, já que Souto não teria diminuído sua votação em relação ao que as pesquisas exibiam desde o inicio, quando o democrata se consolidava na faixa dos 40% e chegou à última avaliação a 36%, praticamente mantidos nas urnas. “Não se sabe por que o candidato do PT cresceu tanto, chegando aos 52%. Talvez tenha ocorrido algum erro de metodologia ou de falta de pesquisa no interior. Nas pequenas cidades os votos são muito pulverizados”, frisou.
A definição do cenário político com o PT mais uma vez se mostrando hegemônico e a derrota do prefeito ACM Neto e do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), como lideranças da oposição baiana foi citada pelo professor. “Foi uma vitória pessoal de Jaques Wagner, pois o candidato foi uma escolha dele, já que nem o PT nacional apostava”, afirmou.
O professor do Departamento de História da Ufba, Carlos Zacarias, também destacou a surpreendente conquista petista em solo baiano. “Essa eleição repetiu as duas últimas que Paulo Souto se apresentava na frente da disputa e foi surpreendido com a vitória de Jaques Wagner duas vezes. Rui era desconhecido e a expectativa apenas era de levá-lo ao segundo turno. A oposição de direita não conseguiu se renovar, sendo o único quadro novo o prefeito ACM Neto, que por questões óbvias não iria se candidatar”, conjeturou.
Conforme Zacarias, o PT repete em larga medida “a relação de hegemonia do antigo carlismo na Bahia”. “O PT tomou o espólio do carlismo, tendo quase 400 prefeituras dos 417 municípios. A sua ligação com a luta de classes, os sindicatos – praticamente todos se posicionaram contra Paulo Souto com o passar da campanha, influenciando o funcionalismo público, o programa Bolsa Família, lembrando que a Bahia é o estado com maior número de beneficiados e a avaliação de que foi este o governo que melhorou a vida dos mais pobres favoreceu nesse resultado”, disse.
Cenário nacional
A decisão nacional com a ultrapassagem de Aécio Neves (PSDB) e a consequente ida para o segundo turno com a presidente Dilma Rousseff (PT), que concorre à reeleição, também foi ressaltada pelos especialistas. Zacarias disse que em dado momento foi possível prever o alcance de Marina Silva (PSB), que ficou em terceiro lugar na disputa. “A chance de Marina seria continuar crescendo até a véspera da eleição. Teria que se mostrar uma alternativa consistente ao PT e a dubiedade no discurso com mudanças no programa voltado para LGBTs a impediu de avançar. Além disso teve a falta de estrutura partidária do PSB”, frisou.
O especialista Wilson Gomes lembrou que havia uma transferência de votos de Marina para Aécio, “mas não se sabia a dimensão”. “A tendência é que a próxima pesquisa o tucano se mostre bastante colado a Dilma. O PT vai precisar rever a estratégia para o segundo turno”.
