A última cartada de Paulo Cezar – Maurílio Fontes

2022 é logo ali e as peças do xadrez começam a ser movimentadas no intrincado tabuleiro eleitoral.

Os cenários vindouros não admitem exercícios afeitos à deusa Pitonisa. No entanto, algum risco, inerente à análise política, é bem-vindo e não pode inibir aqueles que se dedicam à compreensão dos embates que se darão na busca de mandatos eletivos.

Em Alagoinhas, Paulo Cezar enfrentará desafios adicionais em mais uma tentativa de garantir cadeira na Assembleia Legislativa.

Se em 1998, considerado azarão e filiado a partido nanico, PC alcançou a vitória com  15. 753 votos, na próxima disputa o ex-prefeito não terá o condão de surpreender a elite política e menos ainda os eleitores.

Sua forma de fazer política é a mesma de tempos pretéritos, quando se tornou importante liderança, mesmo após as derrotas nas eleições municipais de 2000 e 2004 para o atual deputado federal Joseildo Ramos (PT), entremeadas pela renovação do mandato de deputado estadual em 2002 com 24.120 votos.

Se as duas vitórias em 2008 e 2012 o colocaram no centro da política alagoinhense, reveses em 2014, quando apoiou João Rabelo na disputa por vaga na Assembleia Legislativa, em 2016, com a imposição da candidatura de Sônia Fontes, e as duas derrotas pessoais em 2018 e 2020 podem indicar curva descendente e o suposto fechamento de seu ciclo de vida eleitoral, algo aterrador aos que vivem para a política e, em alguma medida, da política. 

A derrota do ano passado, seguramente a que mais frustrou as expectativas cezistas, é um marco negativo na trajetória eleitoral de Paulo Cezar, que ao longo do ano cantou vitória aqui e em Salvador, como se a disputa não fosse um jogo jogado e não houvesse a natural movimentação das percepções dos eleitores. 

A certeza da vitória e um marketing ruim são, dentre tantas outras, as causas da derrota de Paulo Cezar em sua quinta tentativa de subir as escadas do Paço Municipal como chefe do Executivo (em 1996 compôs chapa majoritária com o advogado Harnoldo Azi). 

Outros fatores, pouco avaliados, mas não desprezíveis, certamente contribuíram para os sucessivos fracassos a partir de 2014: falta de renovação do grupo político, instâncias decisórias sob controle de um pequeno número de pessoas, pouca capacidade de avaliar realisticamente os cenários eleitorais e inexistência de um conjunto programático capaz de mobilizar segmentos que não tinham Paulo Cezar e/ou seus candidatos como opções. 

Números

A maior votação alcançada por Paulo Cezar na disputa por uma cadeira na Assembleia Legislativa foi obtida em 2006: 35.387 votos que não garantiram o terceiro mandato, naquela oportunidade pelo DEM, atual legenda do ex-prefeito. 

Em 2018, os esperados 30 mil votos em Alagoinhas não se tornaram realidade e Paulo Cezar ficou muito distante do objetivo de retornar ao parlamento estadual: os 26.734 votos o deixaram 10.293 sufrágios atrás do petista Radiovaldo Costa.

Mesmo em Alagoinhas a frente para o petista foi pequena, fato que demonstrou as dificuldades naturais de um político que disputa eleições há mais de 30 anos.

A excessiva concentração de votos no município foi outro problema enfrentado por Paulo Cezar, que muito provavelmente se repetirá em 2022, mas em outro viés: a possível diminuição de votos em função da disputa com um nome novo e a perda de apoio de antigos aliados do cezismo, que já começou. 

Prefeito de Alagoinhas por oito anos, foi incapaz de se transformar em liderança microrregional e não colheu resultados políticos de seus dois mandatos no Executivo. 

Futuro

O futuro político de Paulo Cezar sempre estará imbricado com seu passado (Operação Offerus), que naturalmente retornará à baila nas disputas eleitorais.

Paulo Cezar pretende disputar o pleito de 2022, mas o grande objetivo, com o qual sonha em noites intermináveis é a volta ao Executivo em 2024.  

Primeiro, antes da eleição terá que tomar decisões importantes para se colocar no tabuleiro de 2022:

Continuará no DEM?

Manterá a aliança com o deputado federal Paulo Azi?

Ampliará sua base eleitoral para além dos limites microrregionais?

2024 está muito longe e para Paulo Cezar poderá se transformar apenas em pesadelo.

A realidade é francamente desfavorável para ele.

A perda recente de tradicionais apoiadores e o desestímulo de “velhos amigos”, que sempre chegaram junto nas horas difíceis, com o necessário (e bem entendido) oxigênio eleitoral, transformam as possibilidades de vitória de Paulo Cezar em miragem no deserto que se avizinha no próximo ano. 

2022 tem tudo para ser a última cartada de Paulo Cezar.

Com possibilidades reais de insucesso no dia 2 de outubro. 

Quem aposta um vintém na vitória de Paulo Cezar nada entende de política e constrói análises com o fígado pela falta de cérebro capaz de compreender a dinâmica dos cenários eleitorais de Alagoinhas. 

O momento político/eleitoral é completamente desfavorável ao ex-prefeito Paulo Cezar. 

 

Foto: Alagoinhas Hoje

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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