Alagoinhas virou uma zona (azul) – Maurílio Fontes

Polêmicas são naturais na política e tanto mais na administração pública. Ações e reações compõem cenários em que gestores, no geral, agem e segmentos da sociedade reagem em tempos de redes sociais a todo vapor, com opiniões baseadas em raciocínios lógicos, demonstrando consistência argumentativa, mas também muitas bobagens oriundas de quem não domina os meandros da análise social, quase sempre complexa e distante dos naturais “achismos”, tão em voga na ex-terra das laranjas, a cidade pórtico de ouro do sertão baiano, como caracterizou Alagoinhas o mestre Rui Barbosa.

A despeito da naturalidade das polêmicas, não se pode negar que a administração do prefeito Joaquim Neto tem grande pendor para embates, fricções sociais e batalhas que não pode vencer diante da avalanche de críticas de que é alvo.

O prefeito Joaquim Neto mais parece o General Pirro, que ao vencer batalhas com custos altíssimos, se transformou em um vencedor-derrotado. Vitória de pirro é aquela que não valeu a pena ser conquistada.

Há certas batalhas que de antemão não devem ser levadas adiante em razão de seus custos finais: no caso do joaquinismo, o possível impacto negativo na imagem da administração e do gestor.

A construção da suntuosa sede do Bob´s na praça Rui Barbosa, a batalha argumentativa/financeira entre a Prefeitura de Alagoinhas e Pestalozzi, a questão do “racismo institucional”, e mais recentemente o início da cobrança da zona azul demonstram que há um gap (lacuna) entre as intenções do poder público e os resultados práticos, que de alguma forma, não cientificamente, podem ser mensurados pela revolta da população, sempre pronta a descer o malho no joaquinismo.

De roldão, a zona em que se transformou Alagoinhas no caso da cobrança de estacionamento no centro da cidade levou também a Câmara de Vereadores, instância que aprovou a legislação. Sem procuração para defender os atuais opositores, que aprovaram a implantação da zona azul, registro, mais uma vez, o descompasso entre as intenções e as realizações governamentais.

No papel, que aceita tudo, o projeto parecia uma maravilha. A realidade, contudo, sobrecarregada por muita incompetência até na pintura de vagas, demonstrou que ainda não era tempo para a vigência da cobrança.

O leitor certamente notará que o artigo não transitou pelos questionamentos legais do processo licitatório que definiu a empresa E-Parking como gestora da zona azul de Alagoinhas.

Licitações em Alagoinhas, com cores e modos satirenses, em alguns casos emblemáticos, deixam muitas margens para dúvidas, apesar da legalidade aparente.

A implantação da zona azul não é um mal em si mesma, não representa o fim do mundo, e nem tão pouco deve transformar o centro de Alagoinhas em palco de refregas diárias e de ebulição acima da temperatura socialmente aceitável.

A má vontade de parte da sociedade alagoinhense com o governo distorce as tonalidades, transforma aquilo que seria positivo em negatividade acachapante e joga no canto do ringue a administração municipal, que ao reagir, no geral, utiliza ferramentas não condizentes com a complexidade dos problemas, quase sempre rebaixados para “coisas” de somenos importância.

Um exemplo é válido: após a exoneração de Jaldice Nunes, argumentei com um ocupante de primeiro escalão do joaquinismo de que haveria repercussão política. Eis a resposta: “Jaldice é muito pequena para gerar o rompimento entre o deputado Paulo Azi e o prefeito Joaquim Neto”.

Os desdobramentos todos conhecem e não preciso me alongar no tema e menos ainda em suas consequências políticas.

O governo precisa afinar a análise acerca das consequências de seus atos, melhorar a gestão da política (no Brasil, apesar dos argumentos bolsonaristas, é quase impossível separar administração pública da politica), investir na profissionalização da comunicação (algo tardio, mas ainda possível de se tornar realidade), reconfigurar sua relação com segmentos sociais e partidos políticos, avaliando quem pode somar no presente e futuro, e rever posições com maturidade e não com características de “menino amarelo”.

Alagoinhas virou uma zona (azul). Mais zona do que azul ou de qualquer outra cor.

Maurílio Fontes –  Editor dos sites Alagoinhas Hoje e Bahia Hoje News

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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