Com a pandemia da Covid-19 e o fechamento de espaços físicos, as editoras e livrarias baianas tiveram de adaptar as vendas para o meio digital e, assim, conseguirem manter o funcionamento.
O Portal A Tarde conversou com duas editoras e duas livrarias que funcionam na Bahia para entender como ocorreu este fortalecimento para os meios digitais: a Editora Caramurê, em Salvador, a Editora Corvus, em Feira de Santana, e as livrarias LDM e Porto dos Livros, ambas na capital baiana.
Os representantes de todas elas concordam que houve um crescimento da procura por livros através de sites durante a pandemia. O sócio da livraria Porto dos Livros – que deixou de funcionar presencialmente e migrou para o site e redes sociais -, Lucio Urbanetto, acredita que o aumento das vendas ocorre porque as pessoas estão mais tempo em casa e buscam por um meio de entretenimento possível.
“A leitura faz isso de entregar entretenimento dentro de sua própria casa. Hoje, as pessoas não estão podendo viajar nem sair, e estão em busca de opções para se distrair sem correr o risco de se contaminar com o novo vírus”, comenta Lucio.
Ele destaca que, antes da pandemia, já havia a ideia de criar o site da empresa, que foi antecipado para conseguir atender as demandas.
“Eu e minha irmã, Carla Urbanetto, que também é sócia do Porto dos Livros, não conseguimos negociar e entregamos a loja, que funcionava no Porto da Barra, em Salvador. Mudamos nossos livros para uma sala que é depósito e escritório e nos tornamos 100% digitais a partir de agora. Com isso foi necessário adiantar a confecção do site”, explica.
Um levantamento realizado pela Nielsen Book e coordenado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e Câmara Brasileira do Livro, mostrou que houve, no Brasil, um crescimento de 4,6% nas vendas onlline de livros para o mercado brasileiro.
Mesmo com as plataformas digitais ganhando força, o fundador da editora Caramurê, Fernando Oberlaender, acredita que os espaços físicos de venda de livros não vão deixar de existir, mesmo após a pandemia.
“Acredito que a venda presencial não vai acabar. Pode reduzir um pouco e ser complementada com o virtual, mas vai se manter. A Caramurê começou a investir mais na pandemia. Nós temos o site e percebemos um aumento de vendas, mas ainda é pequeno comparado com o que vendíamos presencialmente”, pontua Fernando.
A responsável pelo marketing da livraria LDM, Luana Maldonado, também acredita que a venda presencial de livros não vai acabar e deve se aliar com as vendas virtuais. Contudo, a profissional analisa que as vendas pelo site ainda vão crescer bastante após o fim da pandemia do novo coronavírus.
Ela também credita o aumento das vendas virtuais da LDM a três fatores: frete grátis, kits especiais e credibilidade.
“Nós temos a credibilidade de uma livraria de respeito. Junto a isso, também oferecemos frete grátis para Salvador e Lauro de Freitas e montamos o envio do livro com todo carinho, criando um kit especial com marcadores e outras coisas”, explica.
Luana também destaca que só criar um site não é suficiente. “A atuação nas redes sociais é muito importante. Criamos anúncios no Instagram para atingir pessoas que não conheciam a LDM e também procuramos atender a todos da melhor forma possível, através do WhatsApp”.
Nasceu no digital
Apesar de muitas editoras e livrarias já tradicionais na Bahia estarem se adaptando aos meios digitais, outras já foram criadas com funcionamento específico neste meio.
Segundo o fundador da Editora Corvus, Henrique Morais, por conta da editora não funcionar em espaço físico e sempre atuar através de site e redes sociais, não houve mudanças drásticas em seu funcionamento, mesmo durante a pandemia.
“Prorrogamos alguns projetos por tempo indeterminado, como financiamentos coletivos, então acabamos atrasando algumas coisas, mas publicação digital sempre foi um dos nossos focos, então quanto a isso continuamos operando relativamente da mesma forma”, pontua Henrique.
O fundador da Corvus, criada na cidade de Feira de Santana, também frisa que o mercado digital de livros está se fortalecendo e que é necessário se adaptar a este meio para sobreviver.
E-books como opção
Além da venda de livros físicos nos meios digitais, existe também a possibilidade da venda de livros digitais, conhecidos como e-books.
Para Henrique, a cultura da leitura ainda não é tão comum no Brasil e a leitura digital também pode ser vista com alguns ‘poréns’ por leitores mais conservadores.
“Mas a praticidade de aquisição e leitura, o custo-benefício e o processo de produção de um e-book têm se mostrado pontos muito positivos. É um mercado que vai crescer muito ainda, e boa parte desse crescimento vem dos produtores independentes, que são quem mais fazem uso”, comenta o fundador da editora Corvus.
O sócio da Porto dos Livros, Lucio Urbanetto, está avaliando como a venda de e-books pode ocorrer na empresa, com a possibilidade de produções próprias da Porto.
“A gente está vendo como fazer venda de e-books, mas acho que seriam produções mais próprias. Talvez adaptar para virar editora”.
Já o fundador da Caramurê, Fernando Oberlaender, reconhece que e-books ganharam espaço no hábito de leitura das pessoas, mas acredita que os livros físicos ainda têm destaque em algumas ocasiões.
“E-book pode ser muito melhor que um livro físico em algumas situações mas, em outras, ele não serve. Eu acho um absurdo, por exemplo, livros de consulta – que alteram toda hora – serem vendidos físicos, deveria ser digital para só atualizar o arquivo. Mas livros de literatura ou que se lê por prazer, ainda têm a tradição de ser no físico”, completa Fernando.