Produção e descarte de lixo na quarentena são alvo de atenção

Diante do isolamento domiciliar em diversas cidades do estado por causa do novo coronavírus, o lixo está no foco dos debates que envolvem a sustentabilidade. A realidade causada pela pandemia colabora para o aumento da produção de lixo em áreas residenciais e liga o alerta para a importância do correto descarte de resíduos e equipamentos individuais de proteção (EPIs), a exemplo de luvas e máscara.

Com as medidas de proteção adotadas em Salvador durante a quarentena, a geração de resíduo domiciliar cresceu 18% (24 mil toneladas) de março a abril e 5,5% (7,3 mil toneladas) em maio, na comparação com os mesmos períodos do ano passado. Os dados são da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb).

O presidente da Limpurb, Marcus Passos, alerta que os resíduos residenciais devem ser acondicionados e destinados de maneira segura e ambientalmente correta para evitar os impactos ambientais. “O correto descarte do lixo ajuda na preservação ambiental, além de evitar problemas como o entupimento de bueiros e consequente alagamento de ruas. Porém o coronavírus trouxe outro desafio: a necessidade maior de descartar adequadamente materiais como luvas e máscaras. A medida é essencial para reduzir os riscos para a saúde dos trabalhadores que atuam na coleta de resíduos”, explica Passos.

Segundo Passos, ao descartar materiais como máscaras e luvas, é preciso usar dois sacos plásticos, um dentro do outro. Com o material lá dentro, é só amarrar bem e jogar no lixo do banheiro. Para garantir que os recipientes não serão rasgados com impactos, o que gera riscos de contaminação para quem entra em contato com os materiais, Passos recomenda o uso de até 70% da capacidade dos sacos.

Com relação ao descarte da totalidade de lixo residencial e importância da preservação do meio ambiente, o presidente reforça que os moradores precisam ficar atentos aos horários de coleta da Limpurb nos seus bairros, ações que evitam o acúmulo de lixo e resíduos sólidos em ruas, encostas e rios da capital.

“Quando existe grande presença de lixo na área urbana, esse material pode ser arrastado pela chuva e acabar gerando problemas como deslizamentos de encostas e poluição de mananciais e outros meios ambientais da capital”, acrescenta Passos.

Descarte sustentável

O desafio do descarte sustentável de lixo e resíduos sólidos será a pauta do cenário pós-pandemia, afirma Érica Rush, advogada especialista em direito ambiental. “A pandemia causa impactos ambientais e liga o alerta para a importância da correta gestão do lixo domiciliar e resíduos sólidos, uma gestão sustentável. Vale destacar que temos uma boa Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), mas ela precisa ser colocada em prática”, diz ela.

Entre os principais pontos da PNRS que envolvem o descarte adequado e proteção ambiental, Érica afirma que é preciso olhar para a importância de acabar de vez com os lixões presentes em diferentes municípios baianos. De acordo com a PNRS, os lixões do estado devem ser extintos e substituídos por aterros sanitários, onde existe a captação adequada de elementos como o chorume e o gás metano, agentes produzidos pelo lixo que podem contaminar solo e reservas de água.

Redução de lixo

Para reduzir o lixo produzido em casa, a professora aposentada Arly Mary de Oliveira, 71, moradora de Piatã, faz a coleta seletiva de itens recicláveis e separa o material orgânico da cozinha para o processo de compostagem. Com as medidas, ela reduz a quantidade de lixo descartado em 80%. O processo de compostagem natural usado por Arly, com o auxílio de uma composteira, húmus e material vegetal seco, é utilizado para aproveitar os alimentos e produzir adubo.

“Tenho uma lixeira na cozinha apenas para a matéria orgânica que pode ser usada na compostagem. Além disso, toda semana, encho um tonel de 200 litros com materiais como plástico e papel. Os recicláveis são recolhidos semanalmente por uma cooperativa local”, conta a professora.

Para diminuir o risco de contágio dos coletores dos materiais recicláveis, além do período de sete dias de espera no tonel, a professora limpa com água e sabão itens como garrafas e embalagens plásticas.

Apesar de reconhecer a importância da coleta seletiva para a sustentabilidade ambiental, neste momento de pandemia, Passos recomenda a suspensão das atividades de coleta. “É para proteção dos catadores, pois muitos não têm os EPIs necessários para a coleta segura do material. Infelizmente, nem todas as pessoas têm o cuidado de limpar os materiais que destinam para a reciclagem”, conclui o presidente.

O tempo de permanência do coronavírus em resíduos varia: cinco dias para materiais plásticos e papel, duas horas para o alumínio, 48 horas para o aço. Os dados são da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes).

Impactos

Por causa do medo de contágio, cerca de 30% do material que era reciclado em Salvador estão indo direto para os aterros sanitários, afirma Edmundo Góes, presidente da Cooperguary, cooperativa de Periperi. Na capital, todos os dias, cerca de três mil toneladas de lixo doméstico são enviadas para o aterro sanitário, segundo dados da Limpurb.

“É um impacto para o meio ambiente que não pode ser evitado, pois estamos na situação atípica da pandemia. Desde abril, a cooperativa tem arrecadado menos 60% de materiais, na comparação com os meses anteriores. Para se ter uma ideia, a gente arrecadava 50 toneladas de recicláveis por mês”, diz Góes.

Proteção a trabalhadores da área de limpeza é reforçada

Diante do desafio da atividade diária e ininterrupta de coletar o lixo residencial em Salvador e cidades da Região Metropolitana na quarentena, por um “exército” de profissionais, o Sindicato dos Trabalhadores da Limpeza Pública (Sindilimp-BA) reforça a importância da manutenção de medidas como o afastamento dos empregados do grupo de risco das atividades das ruas, o treinamento para o uso de EPIs e a intensa higienização de equipamentos, vestuários, veículos.

“Estamos falando de trabalhadores que estão na linha de frente do combate ao coronavírus. Por isso, conversamos  e fiscalizamos as empresas do setor. No geral, a maioria das empresas que atua em Salvador e Região Metropolitana segue medidas como a disponibilização de máscaras e álcool em gel para os trabalhadores, além dos tradicionais EPIs [botas, luvas, macacão]”, diz Ana Angélica Rabello, coordenadora-geral do Sindilimp-BA.

 

Além da questão da garantia das condições de trabalho no setor, a coordenadora-geral acrescenta que os sindicatos da área começaram a campanha pelo aumento de 10% dos salários. A proposta será apresentada para a Limpurb e a primeira reunião virtual com aos sindicatos laborais e patronais está agendado para amanhã, 9h. Procurada por A TARDE, até o fechamento da matéria a Limpurb não respondeu sobre as possíveis negociações com os trabalhadores.

Cuidados 

A empresa Naturalle informou que tem seguido à risca todas as orientações das autoridades sanitárias e da legislação trabalhista, com aferição da temperatura dos funcionários antes da jornada, fornecendo máscaras, luvas e todos os demais EPIs necessários para que o trabalho seja realizado em segurança.

Há, ainda, palestras com orientações sobre o assunto, higienização diária dos veículos que transportam os funcionários, com disponibilização de álcool em gel para todos os colaboradore nas unidades e observação do distanciamento dentro do transporte.

Ainda de acordo com a empresa, em todas as unidades, logo no início da pandemia houve um aumento de cerca de 10% na produção de lixo doméstico, mas depois a demanda se estabilizou e hoje está nos mesmos níveis anteriores às medidas de isolamento. A coleta de resíduos inertes (entulhos) apresenta uma redução de 10% em relação ao período anterior.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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