Os negócios do impeachment – Vinicius Torres Freire

VINICIUS

Mais sorrisos do que consternação. Foi assim que alguns donos de dinheiro grosso receberam a notícia do provável mas ainda virtual processo de impeachment de Dilma Rousseff. A pesquisa de opinião foi restrita, dado o adiantado da hora, mas significativa. Mas ainda falta muito para saber quem vai rir no início e no fim desse caso.

Nada mais se esperava de governo e Congresso pelo menos até que o país oficial voltasse das suas férias de verão no pântano, lá por fevereiro. Não se dá o menor crédito ao que passa por política econômica, pelo motivo básico de que não há governo ou apoio político que dê aparência de realidade aos planos de papel, de resto já muito limitados.

Difícil, pois, imaginar que os primeiros tumultos façam muita diferença para as “expectativas dos agentes econômicos”. A ruína econômica estava contratada até meados de 2016, sendo otimista. O jogo será em outro campo.

Dúvida maior: quem vai aderir de pronto à deposição de Dilma? Ainda há riscos de o apressado comer cru ou queimar a língua: 1) Incertezas jurídicas sobre o processo; 2) A possibilidade de não haver votos suficientes para derrubar a presidente; 3) Parte relevante da elite política ainda pode ser degolada antes mesmo que Dilma suba ao cadafalso.

O PT irá ao Supremo a fim de barrar o início do processo. Por outro lado, parte do PT pode mesmo ter rifado Dilma.

Não se sabe como será o rearranjo político nos próximos dias. O PMDB quase inteiro lavou as mãos quando ouviu que Eduardo Cunha pretendia se explodir com Dilma Rousseff, até porque o barulho talvez desvie a atenção de quem tem culpa no cartório da roubança. Mas como se vai derrubar a presidente estando no governo? O que sobrará da cúpula do partido depois de mais dois ou três meses de Lava Jato?

Havia rumores de que o PSDB se conformara com o papel de coadjuvante até 2018, desde que o PMDB cedesse o lugar na próxima eleição. Não se sabe o que restará do boato diante do fato.

Passada a barreira jurídica, o resto da lama do ano vai escorrer nessas costuras e nos procedimentos iniciais da comissão especial que deve encaminhar o processo ao plenário da Câmara, a partir de fevereiro.

Na verdade, o tempo será passado na contagem e na aquisição de votos e apoios que vão decidir a abertura de fato do processo contra a presidente e seu afastamento provisório. Como serão feitos os negócios do impeachment?

O arranjo do pós-Dilma não é simples: arrumar um programa econômico de emergência e articular acordos com a desarticulada (quando não presa) elite econômica.

O que será “das ruas” de PT e “movimentos sociais”? O que farão as “ruas” do PSDB, a direita manifestante? Os partidos vão levar o conflito para o asfalto?

Qual será a influência desses possíveis tumultos nos humores de certa elite, que por prudência e falta de opção dava algum apoio a Dilma? Melhor dizendo: poucos mas enormes empresários e banqueiros até agora constrangiam seus pares a não se manifestar freneticamente pelo impeachment, embora a maioria queira vê-la pelas costas. Vai haver também rearranjo na cúpula da elite econômica?

Enfim, o povo vai assistir a tudo bestializado?

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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