Lídice da Mata sairá da eleição menor do que quando entrou – Maurílio Fontes

A senadora Lídice da Mata (PSB), é prudente reconhecer, vive um momento nada estimulante em sua longa carreira política, embora os discursos públicos estejam voltados para a passagem ao segundo turno, algo que todos os institutos indicam como improvável (mesmo com tantas discrepâncias em relação aos dois primeiros colocados).

A estratégia de se tornar a terceira via, alardeada como a correta no início da campanha, não prosperou e o eleitorado baiano, ao que parece, se tornou arredio às investidas da candidata do PSB e ao seu híbrido discurso, que em última análise, foi mais do mesmo, sem nenhuma novidade impactante.

Na verdade, é válido salientar que a candidatura de Lídice ao governo do estado foi mais uma imposição da candidatura de Eduardo Campos à presidência da República do que um desejo da senadora, que está cumprindo seu papel como dirigente do PSB baiano, hoje distante dos postulados do seu conterrâneo João Mangabeira, fundador do partido. 

Vinculada umbilicalmente ao PT, tanto em nível local quanto no plano nacional, Lídice enfrentou, de pronto, um grande desafio: qual linha de discurso implementar ao longo da campanha? Os meses decorridos demonstraram que as críticas ao PT, parceiro de certa forma histórico, não tiveram ressonância no eleitorado e ela ficou espremida entre duas candidaturas – a oficial, com toda estrutura disponível, e a oposicionista, tendo como bastião a Prefeitura de Salvador, comandada por ACM Neto – fortes e com grande capacidade de atrair velhos e novos aliados.

E mais ainda: com recursos para enfrentar uma longa e penosa disputa em uma Bahia que parece um país. Lídice, ao contrário, por sua curva descendente (e estática) nas pesquisas, foi incapaz de arrecadar o necessário, pois financiadores de campanha, via de regra, fazem contas e querem reaver ou multiplicar os valores repassados para os comitês financeiros dos candidatos majoritários. 

Mas, a despeito de todas as dificuldades, reais e às vezes incontornáveis, Lídice se deparou com dilemas argumentativos de difícil superação para ocupar espaços e cativar certas faixas de eleitores insatisfeitos com o PT e distantes das pregações do DEM.

As críticas dirigidas ao modo do PT governar a Bahia nestes quase oito anos, muitas delas coerentes e embasadas nos exemplos exitosos de Eduardo Campos à frente do governo de Pernambuco, não conseguiram conquistar mentes e corações, esvaziando ao longo da campanha aquilo que estava planejado para ser a terceira via, em um estado que historicamente quase sempre se deparou com confrontos duais, nos quais candidatos oficiais e oposicionistas disputaram a cadeira do Executivo baiano em embates que ficaram na história – Antônio Balbino x Pedro Calmon, em 1954, e Waldir Pires x Lomanto Junior, em 1962.

Embora esteja cumprindo seu papel partidário, que lhe dará por mais tempo o controle do PSB baiano, Lídice, a 10 dias da eleição, vê minguar sua estatura política e sairá menor do que entrou, tendo que encontrar uma faixa política e eleitoral na qual terá que trafegar a partir de 5 de Outubro.

Para ela, a viabilidade de segundo turno seria a melhor alternativa: assim, voltaria ao convívio petista para tentar derrotar Paulo Souto. Esqueceria as críticas ao PT e seguiria a vida, cumprindo os quatro anos restantes de seu mandato no Senado Federal.

Mais uma vez, como aconteceu nesta campanha, seus dilemas argumentativos ficarão evidentes.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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