Filho de Ceveró levou quatro gravadores para encontro com Delcídio

DELCIDIO AMARAL

O ator e produtor Bernardo Cerveró, 34, usou um aparelho celular e um gravador de voz para registrar a promessa do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado, que ofereceu R$ 50 mil mensais ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró para que ele não fechasse acordo de delação premiada.

Na gravação, o senador se referiu ao banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, como “quem entraria com a grana” para financiar a fuga do ex-diretor da Petrobras.

O parlamentar e o banqueiro foram presos na manhã desta quarta-feira (25).

O encontro aconteceu no último dia 4, em um quarto do hotel Royal Tulip, em Brasília. Foi o segundo para tratar do assunto. O primeiro aconteceu em setembro.

Participaram da reunião, em Brasília, Bernardo Cerveró, o senador Delcídio do Amaral; o seu chefe de gabinete Diogo Ferreira e o advogado de Nestor Cerveró, Edson Ribeiro. O acordo da delação premiada foi feito 14 dias depois, em 18 de novembro.

Em seu depoimento à PGR (Procuradoria Geral da República), Bernardo Cerveró contou que levou um telefone celular extra para o encontro em Brasília. Ele já sabia da prática do grupo de esconder telefones em um armário numa tentativa de evitar qualquer monitoramento.

Enquanto um aparelho ficou trancado em um armário, o filho de Cerveró ligou os outros dois para gravar o encontro.

De acordo com a gravação de Bernardo Cerveró, o senador diz que André Esteves financiaria a possível fuga do ex-diretor da Petrobras para o exterior, como também, disponibilizaria ainda uma verba mensal para a família. Para isso, o nome do banqueiro ou do senador não deveriam ser citados.

No depoimento à PGR, Bernardo Cerveró disse ainda que já estava atento ao BTG Pactual e à André Esteves. O banqueiro era citado nos depoimentos prestados por seu pai. Um dos relatos mencionava que Esteves teria pago propina ao senador Fernando Collor por 120 postos de gasolina em São Paulo que pertenceriam ao BTG e ao grupo Santiago.

Durante todo o período do encontro, Bernardo Cerveró disse concordar com as ideias dos participantes, como por exemplo, a fuga de Nestor Cerveró, apesar de “ser contrário” a ela: “Não poderia constranger os presentes”, disse no depoimento aos procuradores.

Mesmo assim, a atuação do ator chamou a atenção de Diogo Ferreira, chefe de gabinete do senador e um dos participantes do encontro. Um quarto aparelho, um chaveiro gravador chamado de “espião”, preso à mochila de Bernardo Cerveró, fez Ferreira deixar o lugar onde estava sentado e ir até à bolsa do ator.

Após constatar que o aparelho estava desligado, Ferreira ligou a TV e se colocou entre o senador e a mochila na expectativa de dificultar a gravação. “Não tive tempo de acionar este gravador”, disse Bernardo Cerveró no depoimento.

Além da gravação, o ator ainda apresentou à PGR cópias de emails e de mensagens de texto por telefone celular entre ele e advogados que acompanharam as supostas negociações.

OUTRO LADO

A defesa do senador Delcídio do Amaral divulgou um nota em que”manifesta inconformismo” em relação à prisão do cliente e pede respeito à Constituição, que, segundo os advogados, impede, à exceção de flagrante, a prisão de parlamentares.

A nota, assinada pelo advogado Maurício Silva Leite, desqualifica ainda Nestor Cerveró, chamando-o de “delator já condenado”.

A prisão também deixou “perplexo” o banqueiro André Esteves, segundo seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.

Em nota, o BTG Pactual diz que vai colaborar com as autoridades para esclarecer os fatos investigados.

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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