Ciência pode testar a hipótese de Deus, diz astrofísico popstar

Se Deus tem alguma ação no mundo, a ciência pode testar isso. A afirmação controversa vem do astrofísico americano Neil deGrasse Tyson, famoso no mundo inteiro depois de estrelar a nova versão da série de TV “Cosmos”.

Ele está lançando um novo livro no Brasil, “Morte no Buraco Negro” (Editora Planeta, 432 págs.), que reúne uma coleção de ensaios escritos entre 1995 e 2005 sobre os mais variados temas. Dentre eles, a polêmica relação entre ciência e religião.

Em entrevista à Folha, o diretor do Planetário Hayden, em Nova York, também aborda o rebaixamento de Plutão e argumenta que a palavra “planeta” já perdeu o sentido com a evolução do conhecimento astronômico.

 

ASTROFÍSICO 1
Neil deGrasse Tyson
– Isso apenas significa que eu sou um fracasso (risos). Não, talvez signifique que tudo seria muito, muito pior se não fossem pelas pessoas sempre travando a luta. Num país livre, eu não ligo para o que as pessoas acreditam ou pensam. Eu não tenho problemas com a crença pessoal de cada um. Mas, se você ascender ao poder, quiser criar leis e as basear em suas verdades pessoais, este é o começo do fim da sociedade livre.Folha – O momento para o lançamento de seu livro no Brasil é bem oportuno, com o crescimento de um movimento anticiência. Há 20 anos, era impossível imaginar alguém defendendo a ideia de que a Terra é plana. E agora, o que está acontecendo?

Queria falar de algo que você não aborda no livro, que é a noção de que talvez o maior risco aos humanos agora sejam os próprios humanos.

Bem, estou na fronteira entre um pessimista e um realista. Gosto dos dados recentes que mostram que somos mais gentis uns com os outros na média do que jamais fomos como civilização. Um exemplo: as 80 e poucas mortes que aconteceram no sul da França. Aquilo fez manchetes ao redor do mundo por dias. Mas 70 anos atrás estávamos lutando a Segunda Guerra Mundial. Mil humanos morriam por hora. E isso não fazia manchetes.

O sr. resolveu tirar Plutão da lista de planetas no Planetário Hayden antes de todo mundo. Desde então, a União Astronômica Internacional criou uma definição estrita de planeta, deixando Plutão mesmo de fora. Minha pergunta é: o sr. está satisfeito com a definição?

Acho que a decisão deles foi sensata, diante do que sabemos sobre objetos no Sistema Solar. Entretanto, penso que o que devia ter acontecido é que nós nos livramos da palavra “planeta” de uma vez por todas, porque não é mais útil. Se eu disser que achei um planeta orbitando outra estrela, você tem de brincar de “Quem eu sou?”. É grande? É rochoso? Está na zona habitável? Pode ter vida? Tem luas? O fato de que, na nossa nomenclatura, a palavra “planeta” pode descrever tanto a Terra como Júpiter me diz que o termo não é mais útil.

Então a ideia seria abandonar a palavra planeta?

Não seria ótimo se em uma única palavra nós soubéssemos se o planeta está na zona habitável de sua estrela? Pense nas palavras que temos só para descrever água. Temos uma palavra para descrever água vaporizada que flutua sobre a sua cabeça –é uma nuvem. Mas agora suponha que a água vaporizada esteja no chão. Há uma palavra diferença: neblina. Agora, o que acontece se a umidade do ar condensa durante a noite e forma uma gota d’água em plantas? Temos uma palavra diferente para isso: orvalho! Então, eu acho que o léxico para planetas é subdimensionado, dada a necessidade de que temos.

O século 21 está recheado de promessas de grandes descobertas, de exoplanetas até ondas gravitacionais. Quais são suas grandes expectativas para os próximos anos?

Acho que na próxima década ou duas saberemos com certeza se Marte já teve vida. Certamente não há vida na superfície agora, porque há raios ultravioleta muito danosos vindos do Sol, e não há proteção de uma camada de ozônio como temos aqui, não há oxigênio livre na atmosfera marciana que serviria a esse papel. Então, se houver vida lá hoje, estará no subsolo.

A ciência pode provar que não há Deus?

A ciência pode testar se há um Deus, baseada nas afirmações que você faz sobre o seu Deus. Então, a ciência nunca prova nada sobre nada. Você geralmente não verá um cientista usando a palavra “prova”. Não é o que fazemos. O que fazemos é: temos uma ideia, e nós a testamos. E se a ideia sobrevive ao teste e fazemos outros testes e fazemos outras pessoas verificarem, então estabelecemos uma nova verdade sobre o mundo, baseada na série de testes que fizemos.

Você diz: “Eu acredito em Deus”. Eu digo: “Tudo bem. Se Deus existe, como ele se manifestaria nesse mundo?” E você diria: “Pessoas que rezam terão suas preces atendidas.” Ou “Pessoas que ficam doentes e que recebem orações têm mais chance de melhorar.” Você pensa em fenômenos testáveis que, segundo você, se seu Deus existe, deveriam ser testáveis.

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

Menu de Topo