Alagoinhas: Lis assumirá nos próximos dias linhas de ônibus da Xavier – Exclusiva

FOTO CONJUNTA 1

O sistema público de transporte urbano é um segmento para quem tem estômago e as práticas dos bastidores mais parecem coisas que “beiram o mar”, indicando proximidade com um conhecido descumpridor das leis e dos bons costumes nos morros e praias cariocas, hoje em prisão federal.

Com as exceções de praxe, a contaminação atinge praticamente todos os atores do sistema, mesmo que alguns banquem os bons moços e defensores dos oprimidos. São, na verdade, velhos canastrões em pele de cordeiro.

O jogo de interesse não está ao alcance dos pobres mortais e usuários dos ônibus em qualquer cidade do Brasil.

Substantivo masculino, o termo “conluio” define bem as tramas engendradas com objetivos nada republicanos, escudados no “juridiquês” de ocasião para encobrir os verdadeiros motivos de certas atitudes.

Alagoinhas vive neste final de semana os atos teatrais da substituição da Xavier Transportes Urbanos pela Lis, empresa oriunda de Camaçari, que assumirá as linhas da antiga permissionária, cuja “licença” de funcionamento foi cassada ontem pelo poder público municipal.

Mas o espetáculo não pode parar e a peça precisa ter sequência. Entretanto, os atores confundiram as falas e começaram do fim para o início, em uma completa distorção do texto.

A Xavier, empresa que está saindo do palco, há muito tempo não desempenhava bom papel na cena urbana de Alagoinhas e os aplausos sumiram. As vaias eram comuns por conta da degradação dos ônibus, descumprimento dos horários, baixa ou nenhuma manutenção e constantes interrupções das “viagens”.

Envelhecida, a Xavier não buscou oxigênio nas boas práticas de gestão e nem conseguiu se renovar para assumir outros papéis. Agora, está pagando o preço de ser um ator carcomido pelo tempo.

Estas são as cenas visíveis, mas o mais interessante é o que se passa na coxia, local onde os atores esperam para entrar no palco no momento da cena que lhes cabe. Os astros do show business gostam de casas lotadas que asseguram muitos $$$$$$.

Odeiam a meia entrada, porque a bilheteria não condiz com as expectativas financeiras do borderô parrudo que almejam.

Enredo

Há muito tempo o enredo da saída da Xavier vinha sendo ensaiado, com idas e vindas, pressões e contrapressões.

A empresa tem débitos com o governo federal relativos ao FGTS, o que afeta a vida dos seus 150 trabalhadores. Mas isso não diz respeito ao erário municipal. 

A falta de vistoria dos ônibus, que ultrapassa o tempo limite especificado em lei, também comprometeu o funcionamento da permissionária do transporte urbano de Alagoinhas.

No decorrer de décadas, os gestores municipais fecharam os olhos para os problemas das empresas de transporte coletivo, cujos donos mantiveram proximidade com alguns detentores de mandatos eletivos, inclusive financiando campanhas eleitorais.

Cena I

Mais recentemente, dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários da Região Metropolitana de Salvador (SINDIMETRO), Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Camaçari e Região (SINDROD) e do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários Urbanos de Alagoinhas (SINDRALA) passaram a pressionar a Xavier exigindo o pagamento imediato dos débitos existentes com o governo federal.

A greve dos trabalhadores, mesmo com os salários em dia, agravou ainda mais a já precária situação da empresa e abriu uma brecha “oportuna” no barco da Xavier. Oportuna, diga-se, para novos entrantes e seus parceiros, atuantes no breu das tocas.

Cena II

Com o movimento paredista, a Prefeitura de Alagoinhas – prefeito, secretário de Governo, superintendente da SMTT e procurador jurídico – entraram em cena como mais um peso desfavorável à Xavier, atualmente desprovida de meios para enfrentar embates, em razão de questões administrativas e pessoais de Juracy, dono da permissionária e que durante muitos anos transitou no meio político do município com tapete vermelho à sua espera.

Cena III

Ontem (27), em Diário Oficial Eletrônico, a Prefeitura de Alagoinhas publicou dois decretos versando sobre o sistema de transporte urbano.

Dois atos, com datas de expedição distintas, publicados no mesmo dia. O primeiro, de 20 de novembro (nº 4.289/15) “regulamenta o disposto na lei complementar nº 022/2006, que trata do sistema de transporte público do Município de Alagoinhas”.

A administração do prefeito Paulo Cezar precisou de quase sete anos para agir no sentido de regulamentar o sistema de transporte público?

Datado de 26 de novembro, o decreto nº 4.297/2015 inseriu mais um ingrediente à peça teatral: determinou a instauração do estado de emergência no sistema de transporte coletivo urbano no município de Alagoinhas. Em seu artigo 2º, o decreto do chefe do Executivo afasta a Xavier e cassa suas permissões de funcionamento.  

Cena IV

Às 10h30 de ontem, na sede da SMTT, em Alagoinhas Velha, mais uma cena teatral deste imbróglio. Representantes dos três sindicatos, da Prefeitura de Alagoinhas e o proprietário da Xavier, acompanhado de seu advogado, discutiram formas de acabar a greve e resolver as pendências da empresa com o governo federal e os trabalhadores.

A empresa apresentou cronograma para regularização das questões trabalhistas, parcelando os débitos, e indicou datas visando regularizar a situação dos veículos.

Registre-se que no começo da reunião (10h30), as permissões da empresa já haviam sido cassadas pela Prefeitura de Alagoinhas, transformando a reunião em pantomima de quinta categoria. Puro jogo de cena. 

Cena V

À tarde, os trabalhadores rejeitaram as propostas da Xavier e mantiveram a grave.

Cena VI

Os dois decretos, entretanto, só “apareceram” no início da noite de ontem, em ação similar às tramas de Harry Houdini, um dos maiores escapistas e ilusionistas da história.

Cena VII

As cenas, como registrado acima, de certa forma foram atropeladas pelos atores e não têm sequência lógica.

No início da semana, no auge da crise, uma nova empresa de transporte urbano aparece em Alagoinhas para assumir o lugar que a Xavier ainda ocupava. Não havia segredo quanto a isso. Especula-se sobre a realização de longas reuniões.

Ao questionar notas da coluna Bate Pronto sobre a Xavier, um leitor registrou no dia 26 que a Lis estava pronta para assumir as linhas da Xavier.

Funcionários foram contratados e um ônibus especial para treinamento de motoristas começou a transitar pela cidade.

Ontem, fardas da Lis foram distribuídos e ao longo do dia os futuros trabalhadores se dirigiram para a uma clínica especializada em exames admissionais.

Resumo: estas cenas aconteceram sem que se soubesse da continuidade ou não da greve e dos decretos sobre o sistema de transporte urbano.

Cena VIII

ONIBUS PRAÇA 1

Ônibus com a logomarca da Lis foi fotografado em frente à Praça Dionísio e Evilásio (foto acima). Hoje pela manhã, mais uma fotografia de um ônibus “escondido” na comunidade da Calu (abaixo) foi feita, comprovando que o dono da empresa (cujo apelido é Carlão) tem completa e inquestionável certeza de que a Lis assumirá as linhas da Xavier, provavelmente, a partir de 1º de dezembro.

FOTO ONIBUS CALU

Questionamentos

O site tentou vários contatos com o prefeito Paulo Cezar para questioná-lo sobre a situação da Xavier, as razões que o levaram a assinar os decretos e os motivos que definiram a Lis como a escolhida para assumir as linhas.

O prefeito não atendeu e nem fez contato até o início da tarde deste sábado (28). O Alagoinhas Hoje tentou garantir à administração municipal o direito de apresentar sua versão sobre os fatos.

Optou-se pelo silêncio, que geralmente compõe a cena em momentos de crise e de grandes tensões.

Procedimentos

Em contato com o site, o vereador Radiovaldo Costa afirmou que os procedimentos da Prefeitura de Alagoinhas nesta questão não são republicanos e ferem o interesse público.

Costa disse que a Xavier deve ser responsabilizada pelos erros que cometeu. “Não estou agindo em defesa da Xavier e nem de seu proprietário”, ressaltou o petista, acrescentando “que a transparência dos atos públicos é regra indissociável dos bons costumes e de quem trabalha para o bem da coletividade”.

Ele demonstrou estranhamento quanto aos dois decretos, que se tornaram de conhecimento de Juracy Xavier no início da noite de ontem, quando ao longo do dia a administração municipal deveria ter agido com base nos conteúdos de ambos, publicados no Diário Oficial.  

O conteúdo pode ser acessado com um clique sobre Diário Prefeitura (abaixo).  

Diario Prefeitura

“A SMTT sediou uma reunião, a partir das 10h30, como se nada de novo estivesse acontecendo. Na verdade, àquela altura certamente já tinha conhecimento da cassação das permissões de Xavier e que a reunião seria, como foi, inócua, sem resultados”, pontuou Radiovaldo.

O vereador garantiu que na segunda-feira formalizará à Prefeitura de Alagoinhas e ao Ministério Público alguns questionamentos: Quais os critérios para a definição da nova permissionária? Outras empresas apresentaram formalmente interesse em assumir as linhas concedidas à Xavier?  Quais os procedimentos da administração que asseguram a transparência e lisura da escolha? Que tipo de acordo garantiu à empresa segurança de que assumiria as linhas? Quando será publicado o decreto de concessão das linhas? As linhas serão concedidas por quanto tempo?

Para ele, o processo é nebuloso e a prefeitura precisa agir no sentido de esclarecer item por item. “A opinião pública tem o direito de saber quais interesses estão por trás deste processo, que poderia ser resolvido de outra forma, com mais transparência, espírito republicano e não a partir de manobras conjuntas visando inviabilizar a Xavier com objetivo de abrir brecha para outra empresa”, salientou.

Radiovaldo entende que o decreto 4.289 foi elaborado tendo como alvo a Xavier, pois seu foco está direcionado para as conhecidas debilidades da empresa. “Não dá para acreditar que foi mera coincidência”, observou.

“Sem critérios objetivos, a prefeitura está concedendo à nova empresa um negócio de quase R$8 milhões por ano”, garantiu. 

Decepção

Em uma rápida conversa no início da tarde deste sábado com o editor do Alagoinhas Hoje, Juracy Xavier disse estar decepcionado com o prefeito Paulo Cezar. “Tenho 49 anos neste ramo, sou filho da cidade e tudo que ganho invisto aqui”, assegurou o empresário.

Xavier garantiu também que ingressará na Justiça contra a decisão da prefeitura. “Vamos entrar para ganhar”, enfatizou.

Cena Final

Bem que esta fala poderia estar no início do texto ou ser inclusive o nome da peça teatral sobre o sistema de transporte urbano de Alagoinhas: Quem indicou a Lis?

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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